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Ao NE45, Daniel Paulista fala do momento do Confiança e saída para o Sport

PE, SE, Série B, Sport, Últimas

Por João de Andrade Neto

Por João de Andrade Neto

Postado dia 13 de novembro de 2020

Nascido em Ribeirão Preto, Daniel Pollo Barion ganhou o “sobrenome” de Paulista ao se tornar um profissional do futebol. Porém, apesar da referência, o fato é que Daniel tem boa parte da sua carreira ligada ao futebol do Nordeste, onde atuou como volante de Náutico, ABC e Sport (onde conquistou o título da Copa do Brasil de 2008). E posteriormente como treinador do próprio Sport, em três oportunidade, e também do Confiança, comandando o clube ao histórico acesso à Série B no ano passado e onde faz boa campanha na competição deste ano. Nesta sexta-feira, antes do treino do Dragão, o técnico concedeu, por telefone, uma entrevista exclusiva ao NE45

Em uma conversa de quase meia hora, o treinador falou das metas do clube sergipano nesta Série B, do momento de definição da competição, e da estrutura atual do Confiança fora de campo. Analisou também o retrato atual do futebol nordestino, com crescimento em estados como Alagoas, Maranhão e no próprio Sergipe e, obviamente, da sua saída para o Sport, em fevereiro, e posteriormente o retorno ao Dragão. Sem arrependimentos, Daniel garante que dessa vez ficará no clube até o final do Brasileiro.

Confira os principais pontos da entrevista

O Confiança retornou à Série B após 28 anos tendo você como treinador. E nesse momento, está no meio da tabela. Qual a meta do clube? Apenas se manter na divisão ou dá para buscar, já em 2020, o acesso à Série A?


A grande meta é a permanência. Essa é a primeira vez que o Confiança joga uma Série B conquistada dentro de campo. E se dá muito valor a isso aqui em Aracaju. Quando retornei agora para essa segunda passagem, a equipe estava dentro da zona de rebaixamento e hoje tem uma situação um pouco mais confortável dentro da tabela. O nosso principal objetivo é ficar na Série B para o próximo ano, porque o Confiança é um clube que trabalha muito com os pés no chão, dentro da realidade. Costumo dizer que se o Confiança só pode ter um copo d’água ele vai comprar um copo d’água. Mas é lógico que o futebol a gente não pode prever e o trabalho vem sendo muito bom, com os resultados acontecendo. Porém, a gente também sabe que é um campeonato muito difícil, e as dificuldades são muito grandes. O Confiança tem a menor folha da Série B (aproximadamente R$ 300 mil), além de outras dificuldades que a gente tem aqui em Aracaju. Mas com muito trabalho e empenho dos atletas, além de organização, a gente vem diminuindo essa diferença e fazendo um campeonato muito competitivo.

Como você enxerga a Série B de uma forma geral? Já dá para apontar algum clube garantido na Série A? E como você está vendo a briga contra o rebaixamento?

O momento agora da competição é de definição. Com mais três ou quatro rodadas vai ficar bem nítido quem vai estar brigando pelo o que e quem vai ficar em uma situação intermediária. A Chapecoense tem o acesso praticamente encaminhado e isso faz com que sobrem somente três vagas. Além disso, a situação do Oeste (lanterna) é muito complicada. Mas ainda tem muita coisa em aberto. O Confiança hoje soma 29 pontos e agora vai entrar em uma sequência de jogos de terça e sexta-feira e isso é um problema para equipes de menor poder aquisitivo porque a logística é complicada e a sequência de jogos é muito desgastante.

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Qual a estrutura hoje do Confiança fora de campo? Ela é funcional para o dia a dia ou ainda falta muita coisa? Há uma preocupação do clube com esse aspecto?

No ano passado, quando conquistamos o acesso à Série B, tivemos uma conversa com a diretoria do clube de que precisávamos de um investimento em estrutura, porque a situação era muito precária. A realidade era essa. O Confiança não tinha uma academia, treinava em um campo com pouquíssimas condições de uso e que quando se chovia, e na época das chuvas fortes em Aracaju de dois a três meses, tivemos em alguns momentos períodos em que não tínhamos condições de treinar. Isso foi tudo colocado na mesa, dizendo que o investimento teria que acontecer em 2020. Mas lógico, dentro das condições do clube. Não dá para fazer tudo sem dinheiro. A prioridade são os salários em dia. O Confiança está rigorosamente em dia e pagou os salários de outubro, carteira e imagem, no dia 6. A satisfação de se trabalhar no Confiança é saber que logo nos primeiros dias do mês vocês já está recebendo seu salário. Mas de qualquer forma alguns investimentos já foram feitos. Como a montagem de uma academia completa e moderna, um departamento médico com a fisioterapia completa e com todo investimento em aparelhagem. Mas com relação ao campo ainda temos dificuldades. Está se construindo um campo, mas em virtude da pandemia e dos problemas de investimento, ele está sendo feito mais lento do que nós queríamos. Contamos com o apoio da Universidade Tiradentes, que nos cede o campo três vezes por semana para a gente treinar, e ainda temos o campo do Sesi. Mas ainda não é a melhor condição para estar se disputando uma Série B. Porém, com o Confiança permanecendo (na Série B), já com o campo totalmente pronto para se treinar, exclusivo para os profissionais, as coisas vão melhorando. Ano que vem já temos calendário definido na Copa do Nordeste e Copa do Brasil e a perspectiva de crescimento é muito boa.

Como você enxerga o momento do futebol do Nordeste? Principalmente no que diz respeito a distribuição das forças, quebrando uma hegemonia histórica dos clubes de Salvador e Recife, com Confiança, CRB, CSA e Sampaio Corrêa crescendo, além de Ceará e Fortaleza se consolidando na Série A. É apenas um recorte de momento ou é algo duradouro?

Vejo que há o crescimento notório. As forças esportivas do Nordeste vêm crescendo. Hoje o futebol não está apenas centralizado na Bahia e Pernambuco. Acho que o Ceará hoje tomou a frente no desenvolvimento do Nordeste. Mas o futebol de Alagoas já está em outro patamar, além do próprio Sampaio, e do Confiança. São clubes que vão começando a despontar e são fruto também de gestões organizadas, com planejamento e trabalho com responsabilidade. Tendo isso você consegue desenvolver um futebol competitivo. Quanto mais equipes se tiver no Nordeste com estrutura, planejamento e honrando seus compromissos financeiros, com certeza a cada ano vamos ter uma região mais forte e encurtando a distância que existe para as equipes do Sul do país.

Você é um treinador de uma carreira ainda curta, apenas quatro anos. Como avalia o seu momento? Qual seu atual estágio de maturidade como técnico?

A gente tem sempre margem para crescimento. O trabalho nosso é um aprendizado diário. O mais importante é que eu tenho uma carreira curta, mas vitoriosa pelas equipes por onde passei. Não é fácil ser treinador no país com as cobranças e as estruturas que temos para trabalhar. Tive duas passagens positivas pelo Sport, salvado o clube duas vezes do rebaixamento (à Série B) e uma delas ainda classificamos para a Sul-Americana. Depois vivemos uma realidade completamente diferente em uma Série C com o Confiança, sem estrutura e sem investimento, mas conseguimos dentro do campo apresentar resultados e subir o clube para a Série B. E agora esse ano, já na Série B, tiramos o time da zona de rebaixamento em um espaço curto, com uma boa margem de segurança. Tenho um trabalho de carreira que vem se consolidando, mas a gente sabe que crescimento e aprendizado vem com tempo e trabalho. Mas não tenho dúvida que estamos no caminho certo.

No início desse ano você trocou o Confiança pelo Sport e depois retornou. Há algum arrependimento dessa decisão?

Acho que essas são escolhas que a gente tem que fazer na nossa carreira profissional e naquele momento entendo que seria uma boa oportunidade. Infelizmente as coisas não caminharam como a gente queria, com os resultados de imediato não sendo os desejados. Todo mundo sabe que o Sport hoje é um clube com diversos problemas a serem administrados e infelizmente esses problemas atrapalham demais no dia a dia. Mas valeu como experiência e como oportunidade. Não me arrependo de maneira nenhuma. Foi uma decisão que achei que deveria ser tomada. Arrependimento jamais. Serviu como aprendizado para que hoje eu estivesse de volta ao Confiança, com mais bagagem e experiência dentro da profissão.

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Em fevereiro, Daniel trocou o Confiança pelo Sport, fazendo com caminho de volta em setembro

Guardada as devidas proporções, essa situação foi semelhante a que o Rogério Ceni viveu ano passado no Fortaleza, quando saiu para o Cruzeiro e voltou para o clube. E esse ano, houve a saída do Fortaleza para o Flamengo. Você enxerga de fato alguma semelhança no seu caso? E qual situação você voltaria a deixar o Confiança?

A semelhança que se tem é que ele saiu do clube, as coisas não aconteceram como ele esperava e houve o retorno ao seu clube de origem. Mas as semelhanças param por aí. São realidades completamente diferentes comparar o Fortaleza em um estágio de Série A com o Confiança no atual momento. Realidades completamente diferentes de investimento, estrutura e condições de trabalho. E são escolhas que em algum momento todos nós que somos profissionais do futebol temos que tomar. Se vai dar certo ou não são outros fatores que vão dizer. Mas naquele momento foi um decisão que precisava ser tomada. O Rogério entendeu o melhor para ele e eu também. Mas hoje estou de volta ao Confiança e estou muito feliz. Meu pensamento é não sair do Confiança até o final da Série B. O pensamento é permanecer aqui independentemente de outras propostas, como já aconteceram. O planejamento vai se terminar o trabalho aqui, alcançar o objetivo e aí, no final do campeonato, sentar e pensar na próxima temporada.

Fotos: Mikael Machado / ADC e Anderson Stevens/Sport Club do Recife

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