Fui um dos que aprovaram a contratação do técnico Mano Menezes pelo Bahia em setembro para assumir o lugar deixado por Roger Machado. Entendia, naquele momento, que o clube dava mais um exemplo do seu processo de crescimento nacional ao trazer um treinador com vasta história no futebol brasileiro, com passagem pela seleção e multicampeão. E que tinha como uma das suas características a correção dos setores defensivos, um dos pontos fracos do time em 2020. Porém, três meses depois, Mano deixa o Bahia menor do que entrou. Como treinador e sobretudo como pessoa.
Dentro de campo, na condução do Bahia, o trabalho de Mano Menezes foi péssimo. Perdeu mais da metade dos jogos que disputou (14 vezes em 24 partidas), obtendo um ridículo aproveitamento de 36,1%, com o time eliminado na Sul-Americana e correndo risco de rebaixamento na Série A. Tomou 37 gols (média de 1,5 por partida). Errou também em bancar e insistir em utilizar, por muito tempo, jogadores com baixo rendimento como Elias e Clayson. Porém, o pior da passagem de Mano foi o que ele fez fora das quatro linhas.
Em sua passagem pelo clube tricolor, o treinador, por mais de uma vez, mostrou um comportamento tóxico, arrogante e agressivo. Uma face por mim desconhecida até então, mas apresentada em um cenário de estádios vazios, por conta da pandemia da Covid-19, com os áudios capitados pelos microfones. E, agora, no caso da denúncia do volante Gerson, que acusa o meia-atacante Ramirez de racismo, o posicionamento de Mano foi ainda mais inaceitável.
O treinador não só minimizou o caso como, pior ainda, colocou dúvidas imediatas e tentou desqualificar a vítima, ao se referir à indignação de Gérson como “malandragem”. Completou dizendo que o jogador do Flamengo tinha que “tomar bico do Daniel mesmo”, em referência a Daniel Alves, do São Paulo, defendendo a violência. Por fim, ainda pediu a expulsão de Gérson.
Lembrando que, no mesmo Maracanã, Mano já havia apresentado uma postura condenável, ao ofender o árbitro José Mendonça da Silva Júnior de “vagabundo” após uma derrota para o Fluminense. O que lhe custou uma punição de quatro jogos dada pelo STJD. Na mesma partida apontou o dedo para seus próprios jogadores pedindo para que eles “acertassem a barra, pelo amor de Deus”. Uma cobrança desrespeitosa.
Não cabe a Mano, nem a ninguém, minimizar uma denúncia de racismo. Gérson não foi “malandro”, foi vítima. Com certeza, após a partida (onde foi um dos melhores em campo) gostaria de aproveitar sua entrevista para exaltar a vitória importantíssima do seu time, no melhor jogo do Campeonato. Mas combater o racismo, como qualquer outro tipo de discriminação, está acima de qualquer disputa esportiva. Não dá mais para aceitar a defesa de que “são coisas de futebol”. Muito pelo contrário. O futebol é um dos retratos da sociedade.
Após a partida, Mano Menezes foi demitido do Bahia. O clube não explicou os motivos. Se foi motivado pelo que o treinador fez dentro ou fora de campo. Ou um misto dos dois. De toda forma, o clube tricolor, pela postura progressista adotada nos últimos anos em defesa de causas sociais fundamentais, não poderia ter tomado outra decisão. O posicionamento do clube não combina com as atitudes do seu, agora, ex-treinador.
Ao Bahia, há chance ainda de recuperação no Campeonato Brasileiro. Com relação a Mano, que ele aproveite esse tempo parado para se reciclar. Como treinador, mas sobretudo, como ser humano.
Foto: Conmebol/Divulgação
Concordo com tudo, João.Exceto pelo exagero em criticar o comentário sobre “acertassem a barra, pelo amor de Deus”..Diniz teria que ir preso então..Ou a clássica frase de Roberto Fernandes com Camutanga. Mas claro, o assunto principal não é esse. Mano, de fato, errou demais.
Por mais contraditório que seja o comportamento de Mano foi correto, não se pode julgar e condenar uma pessoa sem provas, agora com tudo provado, toda farsa criada por Gerson depõe contra todo movimento antirracista de igualdade e principalmente de justiça, condenar e execrar uma pessoa injustamente como a mídia fez, foi algo terrível, mas, terrível ainda é não vê nem ouvir nenhum movimento antirracista se manifestar contra a tremenda injustiça e execração pública sofrida injustamente por Ramirez, pela instituição chamada Bahia, se isso fosse feito esses movimentos seriam muito mais respeitado por todos os Brasileiros que se se incomodam com as injustiças e não se escondem quando ela é evidenciada.