A permanência do Náutico na Série B para 2021 é sem dúvida um enorme alívio para os alvirrubros. Principalmente após o time chegar a estar oito pontos do primeiro clube fora da zona de rebaixamento e com 86% de risco de queda. Porém, o sentimento precisa ser esse mesmo. De alívio. Nada mais do que isso. Tratar a manutenção na segunda divisão nacional como um grande feito será o primeiro passo para repetir os erros de 2020. E foram muitos.
A raiz das falhas cometidas pela diretoria do Náutico no planejamento do futebol foi justamente o superdimensionamento de uma conquista de sarrafo baixo. No caso, o título da Série C. Talvez por vaidade, a diretoria tratou a conclusão da temporada de 2019 como se essa fosse algo grande na história do clube, sem perceber que isso diminui a própria história alvirrubra. E o alívio por não ter que buscar o bicampeonato em 2021 é uma prova disso.
Deslumbrada com o sucesso fugaz, a direção de futebol, entre outras coisas, colocou uma absurda multa de R$ 500 mil no contrato do técnico Gilmar Dal Pozzo e renovou com jogadores que claramente não tinham condições de ajudar o Náutico em uma divisão superior, como Josa, Lombardi e Jorge Henrique. Achou que a base da C seria suficiente para chegar na A. E o caminho por pouco não foi de bate-volta.
Após o início errado de planejamento, se tentou corrigir o rumo com a chegada de Gilson Kleina e a contratação de mais jogadores contestáveis, como os volantes Matheus Trindade e Renan Foguinho, o lateral Igor Miranda, o meia Marcos Vinícius e o atacante Dudu. Uma segunda reformulação, mas sem cara de melhora.
Kleina rapidamente se abateu e o time era o reflexo do desânimo do treinador em campo. E aí, novo erro ao passar do ponto ao perceber que era preciso uma nova virada de chave, com o cúmulo de levar Kleina para um jogo contra o Sampaio Corrêa, fora de casa, já praticamente demitido.
Em comum nessas falhas, o fato de todas as tomadas de decisões passarem por apenas uma pessoa: o vice-presidente do clube e de futebol Diógenes Braga. Um dirigente sério, comprometido com o Náutico, mas que não teve ninguém ao seu lado para apontar possíveis erros, novos caminhos a seguir e ampliar os horizontes na condução do futebol. Como consequência disso, veio o desgaste do próprio Diógenes.
Só quando a nau alvirrubra parecia já afundada, em um momento de quase desespero, houve a abertura para que mais pessoas pudessem colaborar. E não só com dinheiro (a gestão de Edno Melo sempre contou com um grupo de torcedores que colaboram financeiramente), mas sobretudo, com ideias.
O nome de Hélio dos Anjos, maestro na recuperação do time, não veio de dentro, e sim de fora. Uma costura externa, feita por pessoas que não possuem cargos e que deu certo. Uma prova de que um clube do tamanho do Náutico não pode ficar concentrado na mão de duas pessoas, por mais bem intencionadas que elas sejam (Edno segue tendo uma ótima gestão administrativa, com os salários em dia, mesmo durante esse período difícil de pandemia). O que tornaria um rebaixamento em algo ainda mais absurdo, o que só reforça o erro no planejamento inicial. A queda seria sem fatores extracampo.
Ter opiniões de pessoas de confiança sempre é algo positivo. Ter mais braços para ajudar, também. Passado o susto, que as lições sejam assimiladas. Que o clube se abra mais para quem quer e pode ajudar. Com conhecimento, experiência e poder de agregação. Ganham todos. Inclusive, o próprio Diógenes.
A renovação de Hélio dos Anjos se faz quase obrigatória. Mas sem carta branca na formação do elenco de 2021. Será preciso uma ampla reformulação do grupo que quase caiu para a Série C. Até porque será necessário ainda mais assertividade na montagem do novo plantel, desde o início, para uma temporada que de antemão se mostra bem difícil, com o Náutico fora da Copa do Nordeste e provavelmente também da Copa do Brasil.
Buscar atletas em clubes de Série A, com bons jogadores, mas sem espaço, pode ser uma boa alternativa. O próprio goleiro Anderson, cria da base do Palmeiras e que hoje pertence ao Atlhletico Paranaense, é um exemplo.
Além da permanência, que a Série B de 2020 tenha deixado lições a serem aprendidas.
PS: Por falar em aprender com os erros…..nada de cravar rebaixamento restando ainda 10 rodadas para o término da competição. Essa fica comigo.
Em 2021 eu espero sinceramente que a diretoria não cometa os mesmo erros, vale a pena torcer para que torcedores como você, João, espere mais alguma rodada para palpitar erradamente o rebaixamento do clube. Abração, cara.
Ta João, eu concordo com você, no tocante do seu comentário faltando 10 rodadas, realmente não faça, gostei da explanação e da mea-culpa.Fato