Ainda era noite de domingo. Minutos depois do empate entre Goiás e Red Bull Bragantino que selou oficialmente a permanência do Bahia na Série A. No Twitter, um torcedor perguntou minha opinião sobre a continuidade do técnico Dado Cavalcanti no elenco principal do Tricolor. Não por acaso havia refletido sobre este assunto na noite anterior, desde o segundo tempo da goleada contundente sobre o Fortaleza. Aquela atuação, naturalmente, tinha um peso fundamental em uma balança equilibrada de prós e contras. Aliás, não exatamente assim. Diria, sim, que os dois últimos desempenhos – no Mineirão e no Castelão – é que, na verdade, equilibraram essa balança.
Suficientes para me deixar extremamente dividido sobre pergunta feita no Twitter.
Mas, no que realmente importa, suficientes para convencer a direção do Bahia da manutenção do técnico para a temporada 2021.
Não sei se Guilherme Bellintani e sua cúpula de futebol têm plena convicção desta decisão. Obviamente dirão que sim em todas as entrevistas. Talvez tenham apenas chegado a conclusão de que o momento se impôs. Dado assumiu o clube em uma situação complicada e, no final das contas, cumpriu a missão – deixando ainda uma boa impressão na reta final. Mantê-lo no cargo é uma decisão muito mais segura do que, simplesmente, agradecer pelos serviços prestados e devolvê-lo a condição de treinador da equipe de transição. Neste cenário, Dado se tornaria uma sombra constante ao trabalho de qualquer outro técnico. Dois ou três resultados ruins e surgiria uma pressão natural para recolocá-lo no cargo principal.
Ainda é fundamental acrescentar nesta conta o fato de estarmos em uma transição de temporada completamente atípica. Não há um dia de intervalo entre 2020 e 2021 no calendário do futebol brasileiro. Domingo começa a Copa do Nordeste. Semanas depois já tem decisão na Copa do Brasil. Em abril, talvez, Sul-americana. Começar tudo do zero – sem sequer ter um treinador negociado e, principalmente, sem nenhum nome capaz de gerar consenso -, seria um caminho muito mais difícil.
Se eu me colocar no lugar de Bellintani, me veria sem escolha. Mas com uma sensação de que, no mínimo, é uma aposta válida. Sem alto custo, sem gerar desgaste e sem risco de danos profundos.
De fora é muito mais fácil fazer conjecturas. Na pergunta que recebi pelo Twitter, depois de alguns minutos pensando, respondi um apático e sincero “não sei”. Fico dividido entre a avaliação fria do desempenho da equipe sob o comando de Dado Cavalcanti e a inevitável armadilha da consideração. Navegando por enquetes de torcedores do Bahia no Twitter percebe-se uma clara divisão nas opiniões.
Em 11 jogos sob o comando de Dado, o Bahia venceu três partidas, empatou quatro e perdeu quatro. Um aproveitamento de 39%. Positivo para as circunstâncias. As melhores atuações foram contra o Grêmio (logo na sua segunda partida) e, claro, as duas últimas, diante do Atlético/MG e do Fortaleza. Nesses três jogos, o técnico conseguiu mostrar um repertório de variações e capacidade de adaptação – algo que não foi muito comum durante sua carreira. Diante de Vasco, Atlético/GO, Athletico/PR e Corinthians, não encontrou saídas necessárias para graves problemas, porém conseguiu ao menos estabilizar a equipe para atravessar os momentos mais críticos das partidas com o mínimo de frieza. Foram nesses quatro jogos, de atuações burocráticas – com mais problemas que soluções -, que o Bahia pavimentou sua reação. Do outro lado da balança, entram na conta a condução desastrosa contra o Sport e a incapacidade de criar alternativas em casa contra Fluminense e Goiás.
Não consigo colocar uma lupa nessas atuações do Bahia e chegar à conclusão de que Dado Cavalcanti fez um ótimo trabalho. Muito menos encontro razões para justificar uma eventual demissão. Então, considerando que não existe intervalo entre as temporadas, a segunda avaliação pesa mais. O conceito de continuidade se estabelece.
Fred, só uma correção. Caso não seja efetivado como treinador do time principal, Dado voltaria pro cargo de Coordenador e não de treinador do time de transição.