Santa Cruz, o Time do Povo: 109 anos de existência – e sobrevivência

Recife, 3 de fevereiro de 1914. Às 19h, um grupo de amigos se reunia em um imóvel no bairro da Boa Vista e decidia fundar um novo time na capital. Era o nascimento do Santa Cruz. Um clube que cresceu mais do que se imaginava, conquistando uma legião de apaixonados. Nesta sexta-feira, o Time do Povo completa 109 anos. Mas a comemoração é tímida, por causa da situação do time na temporada.

O ano de 2023 trouxe a esperança de dias melhores para o Santa Cruz, tão castigado dentro e fora de campo nos últimos anos. Expectativa que ficou maior após duas vitórias no pré-Nordestão, contra Caucaia e Botafogo-PB.

Mas o Campeonato Pernambucano veio para dar um choque de realidade no Santa Cruz. O clube não perdeu na competição ainda, é verdade. Mas com cinco empates e apenas uma vitória (aos trancos e barrancos), está fora da zona de classificação para a segunda fase e corre o risco de entrar na zona de rebaixamento para a Série A2.

As notícias ruins não terminam aí. Se não subir para a Série C este ano, o Santa Cruz precisa ficar entre os dois melhores times do Estadual depois de Sport e Náutico para garantir presença na Série D do próximo ano. Ou seja, se não conquistar o acesso no Brasileiro deste ano, pode ficar sem calendário em 2024.

A situação pode ser revertida, claro. Mas é preciso ganhar, coisa que o time parece ter desaprendido a fazer este ano. A reação tem que ser neste sábado, quando o time enfrenta o Salgueiro, no Sertão. Neste caso, uma vitória traz alívio para o elenco, mas outro resultado pode colocar o clube em uma crise assustadora.

Difícil apontar um culpado. Porque são muitos os que têm sua parcela de culpa. Gente que manda no clube, gente que já mandou. Os problemas que o Santa Cruz enfrenta hoje são consequência de administrações irresponsáveis, criminosas mesmo.

E se o Santa Cruz ainda está de pé, apesar de tudo, é por causa da sua imensa torcida. Parece repetitivo, e é mesmo. Em todos os anos de crise, lá está ela presente, acreditando, apostando e torcendo por uma reviravolta que teima em não acontecer. Em forma de agradecimento, os dirigentes entregam instalações extremamente precárias no Arruda e cobram caro por um ingresso à sua torcida, reconhecidamente formada, em sua maioria, pelos mais pobres.

O clube

O Santa Cruz foi fundado por um grupo de adolescentes, com idades entre 14 e 16 anos, que costumava se reunir de noite no pátio da Igreja de Santa Cruz, na Boa Vista. Inicialmente, o clube tinha as cores preto e branco. Mas para o Campeonato Pernambucano de 1915, não era permitido ter mais de um clube com as mesmas cores. E assim como o Santa Cruz, o Flamengo do Recife era alvinegro. Por isso, foi feito um sorteio e o Santa Cruz perdeu, sendo obrigado a mudar suas cores. Na época, foi decidido acrescentar o vermelho.