Após trabalhos no Atlético-MG, Cruzeiro e Sport, o executivo de futebol Lucas Drubscky precisou de pouco de três meses para conquistar seu primeiro título no Bahia, com a conquista da Copa do Nordeste. E da concentração do Tricolor na Bolívia, onde a equipe enfrenta o Guabirá nesta quinta-feira (13) pela Copa Sul-Americana, o profissional conversou com exclusividade com a reportagem do NE45.
Na conversa de quase meia hora, o executivo falou sobre o trabalho de reformulação no Bahia, após o clube ter se livrado do rebaixamento à Série B apenas na penúltima rodada do Campeonato Brasileiro, da opção pela manutenção do técnico Dado Cavalcanti, mesmo sob desconfiança de parte dos críticos e das novas metas do Esquadrão para a temporada 2021.
Comentou também sobre uma possível despedida do atacante Gilberto do clube ao final da temporada e da sua polêmica saída do Sport, na reta final da Série A, justamente para o Bahia, com os dois times brigando contra a queda: “O Bahia me ofereceu em um dia, o que o Sport não me ofereceu em três anos”
Confira na íntegra a entrevista.
Você chegou ao Bahia restando cinco rodadas para o término do Campeonato Brasileiro. Com a permanência do clube na Série A, como foi o trabalho de reformulação do elenco que culminou com o título da Copa do Nordeste?
Cheguei no Bahia na fase final do Brasileiro e em um momento bem tenso, mas junto com a comissão que já estava na época, com o Dado, conseguimos em um curto período de tempo a manutenção e ainda um plus que foi vaga na Sul-Americana. E quando eu fui contratado, em uma das primeiras conversas que eu tive com o presidente Guilherme Bellintani, a minha primeira missão era entender o que não tinha dado certo. Porque se criou uma expectativa grande pelo elenco que o Bahia tinha, de brigar por Libertadores, e o time terminou lutando contra o rebaixamento. Então a primeira missão era entender o que aconteceu e fazer de outra forma. E aos poucos fomos traçando o perfil das contratações que iríamos fazer. De jogadores já com certo sucesso na carreira, mas que apesar da boa representatividade no mercado, ainda não haviam atingido o ápice do seu nível técnico. E foi assim que chegamos ao Conti, um zagueiro de nível europeu, o Oscar Ruiz, com várias Libertadores no currículo, por exemplo. Jogadores de qualidade, mas que ainda não alcançaram tudo o que queriam na carreira. Falamos que não queríamos jogadores que viessem para o Bahia atrás da sobremesa, e sim do prato de comida. O Thaciano é outro exemplo. Um jogador que estava em outro grande clube, que é o Grêmio, que já tinha conquistas na carreira, mas não tinha uma conquista ainda como protagonista. Para ele não faltava títulos, mas faltava um pouco de protagonismo.
Esse perfil de contratações vai permanecer para o Brasileiro?
Com certeza o perfil é esse, um perfil que está dando certo. O nosso vestiário hoje é de jogadores que tem um fogo no olhar absurdo. Querem jogar, querem se mostrar, querem ajudar o Bahia. Esse é o perfil principal. E a nossa assertividade mostra isso. O Conti, o Atlético-MG tentou o contratar no ano passado e não conseguiu e nós, com criatividade, conseguimos trazê-lo.
Quantas contratações o Bahia pretende fazer para o Brasileiro?
Temos a ideia de talvez mais um ou dois jogadores. E a partir daí, em um segundo momento, trazer alguns atletas para manutenção, em caso de perda de algum jogadores por lesão mais séria ou mesmo venda. Estamos em análise diária para fazer uma ou outra contratação para a manutenção da máquina caso surja alguma carência.

Apesar da permanência na Série A, o técnico Dado Cavalcanti ainda era visto com alguma desconfiança por parte da torcida e da imprensa para comandar o Bahia no início da temporada. Houve algum momento em que se cogitou, após o Brasileiro, contratar outro treinador com mais experiência?
Em momento algum, desde a minha chegada, foi discutido isso. Em todas as conversas com a diretoria e o presidente sempre se chegou à conclusão que não havia nenhum treinador melhor para o Bahia que o Dado. Sempre tivemos essa convicção que ele seria o melhor nome para trabalhar o 2021 do clube. Foi o único nome considerado pelo trabalho maravilhoso que ele fez. Um treinador muito fechado com o clube e com os jogadores que gostam muito dele, da maneira dele trabalhar e o mais importante: entendem o que ele quer passar e conseguem aplicar dentro de campo. Essa não foi uma escolha difícil. Na verdade foi muito fácil. Um treinador, jovem, mas já experiente, estudioso e muito competente.
Agora campeão da Copa do Nordeste, quais as metas do Bahia para o restante da temporada?
Com certeza o título da Copa do Nordeste nos dará mais sobriedade para pensar com clareza a questão de metas. Não que estejamos tranquilos, de maneira alguma. Ninguém que trabalha em um clube do tamanho do Bahia pode estar acomodado ou na zona de conforto, e sim sempre em busca de mais. Agora, é difícil estabelecer uma meta. Dizer que vamos ficar em uma colocação x ou y e daqui a pouco ser cobrado por isso. Mas sempre temos o objetivo de superar o melhor que o Bahia já fez. Se o Bahia chegou nas quartas da Sul-Americana, queremos ao menos lutar para chegar à semifinal. O mesmo vale para a Copa do Brasil. Vamos trabalhar em várias frentes para alcançar o melhor que o clube já fez.
No Campeonato Brasileiro, o Bahia já foi campeão…
(risos) Pelo tamanho do Bahia tudo é possível. O Bahia é bicampeão brasileiro e tetra da Copa do Nordeste. Mas o Campeonato Brasileiro é longo e prefiro pensar jogo a jogo. O foco sempre tem que ser na próxima partida. Acho mais prudente do que dizer pelo o que vamos brigar.

Após o título da Copa do Nordeste, Gilberto deu uma declaração que muitos atribuíram ser de uma possível despedida. Qual a situação dele com o Bahia?
Não foi uma entrevista de despedida. Tanto que ele está aqui concentrado conosco para o jogo de amanhã (contra o Guabirá, na Bolívia, pela Copa Sul-Americana) e tem contrato até o final do ano. Mas por ser o atleta que é, pelo que representa e vem fazendo nos últimos anos no Bahia, com uma performance muito boa, é natural que desperte interesse de outros clubes. E é natural um jogador querer respirar novos ares. Mas isso não significa que ele não goste do clube. A questão de Gilberto é mais complexa do que ele querer ficar no Bahia ou o Bahia querer ficar com ele. Envolve valores financeiros elevados. E o Bahia, de maneira nenhuma, vai entrar em uma administração irresponsável para manter ou deixar de manter um atleta. Todo jogador que ficar no Bahia precisa estar dentro do que o clube tem como regra e orçamento responsável. É claro que queremos manter um jogador do nível dele, Gilberto é ídolo do clube. Mas se vamos conseguir ou não são outros quinhentos.
Mas restando seis meses para o término do vínculo dele com o Bahia, existe um risco dele assinar um pré contrato.
Esse tipo de situação acontece bem menos do que costuma ser especulado na imprensa. Um jogador normalmente só faz isso quando já está em litígio com o clube e assina um pré-contrato, podendo ficar na geladeira por seis meses. É uma situação muito extrema e não é o nosso caso de jeito nenhum. O Bahia representa muita para o Gilberto pelos muitos anos que ele já tem de clube.
Uma pergunta que não poderia ficar de fora é sobre a sua saída do Sport para o Bahia na semana em que os dois times iriam se enfrentar em uma partida decisiva para ambos contra o rebaixamento no ano passado. Como aconteceu essa “virada de casaca”?
Foi muito tranquila. Tão tranquila que a maioria dos diretores do Sport me mandaram mensagens de parabéns, dizendo que eu tinha feito uma boa escolha. As pessoas que estavam no dia a dia do trabalho, todas me deram razão. Só pessoas que não estavam no dia a do trabalho podem ter tido uma interpretação diferente ou outra de raiva porque achavam que eu ficaria para sempre no Sport. Eu sempre falei para a diretoria que sou um profissional de mercado e sempre perguntava se havia um planejamento pra mim porque eu tenho família e eles sempre respondiam com um “vamos ver” e nunca me passaram a claro o que queriam do Lucas. Mas o Lucas tem desejos profissionais, planos, contas a pagar e família. O que o Bahia me ofereceu em um dia, e não só financeiramente, mas de planejamento e tempo de contrato, o Sport não me apresentou em três anos. Eu fui muito correto na minha saída. Poderia ter saído só na segunda-feira (após a partida) e só me apresentar ao Bahia na semana seguinte, já que o presidente Bellintani me deu essa opção. Mas se o Bahia vencesse o jogo iam dizer que eu tinha passado informações internas ou algo do tipo. Desde o primeiro momento que chegou a proposta do Bahia eu falei que estava indo embora e não adiantava apresentar uma contraproposta. Porque não foi só o aspecto financeiro, mas sim um projeto que apresentaram pra mim, algo que o Sport não fez. Então eu joguei 100% limpo com o Sport o tempo inteiro. Não fugi da concentração, como chegaram a falar. Foi mentira. Estava disposto a fazer o jogo (contra o Corinthians, em São Paulo), mas ali já tinham definido que, como eu já tinha aceitado a proposta do Bahia, não precisava mais continuar na concentração. Entreguei ao Sport três anos de um trabalho muito bem entregue, com título pernambucano, acesso à Série A, quase com o título da Série B, e pelo sim, pelo não, a permanência. Os resultados estão aí. Respeito a instituição. O Sport foi uma página super importante da minha história e da minha carreira.
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