Juliana Lisboa
Dobradinha: nordestinas são lanternas na elite dois anos seguidos
Os anos de 2019 e 2020 não foram muito felizes para os times nordestinos na elite do futebol feminino nacional. Nos dois anos, equipes da região foram rebaixadas. Nos dois anos, os lanternas foram equipes nordestinas. Dois rubro-negros. Dois leões. Um de Pernambuco, outro da Bahia.
Em 2019, o Sport caiu como o pior time da Série A1 do Brasileirão Feminino: acumulou derrotas com placares elásticos e venceu apenas a última partida da fase de grupos do torneio, quando já estava matematicamente rebaixado. Recebeu críticas por conta do tratamento dispensado à equipe feminina. Naquele ano, o baiano São Francisco e o pernambucano Vitória de Santo Antão também foram rebaixados (o Vitória desistiu de disputar a Série A2 de 2020 alegando problemas financeiros).
Em 2020, outro leão rubro-negro, dessa vez baiano, conseguiu piorar o desempenho do Sport e sequer pontuou na competição: o Vitória perdeu todas as partidas, marcou apenas dois gols e sofreu 56. A equipe foi formada, em sua maioria, por atletas do Sub-17 que, no ano anterior, conseguiram a quarta colocação no Brasileiro Feminino Sub-16.
Esses dois clubes, tradicionais no futebol masculino e até então vanguardistas no feminino, compartilham situações parecidas dentro e fora de campo. Ambos viram as equipes masculinas caírem para a Série B em 2019. O baque financeiro foi especialmente forte, já que 2019 foi o primeiro ano que as cotas de TV da Série B foram menores para os times recém-rebaixados.
Isso seria motivo para enxugar a folha de atletas, diminuir a máquina do clube, e otimizar investimentos com contratações e, especialmente, rescisões. E daria para fazer tudo isso mantendo um time feminino competitivo.
Em 2019, o Vitória foi o melhor time nordestino na Série A1, por pouco não passou para a segunda fase de mata-mata e revelou atletas para divisões de base da Seleção Brasileira. Tudo isso com uma folha de aproximadamente R$ 20 mil por mês, cerca de R$ 600 mil por ano.
O Sport conseguiu o acesso para a Série A e, ao que parece, retomou o compromisso com as jogadoras (o time está fazendo boa campanha na Série A2). Já o Vitória amargou mais um ano na segunda divisão e dificilmente conseguirá o acesso para 2021. Não se sabe o que será da equipe feminina, embora o clube tenha obrigação de manter um time de mulheres graças a imposições da Conmebol e da CBF.
O futebol feminino ainda não é enxergado com a importância que merece, e sempre será relegado a segundo plano quando o cinto apertar. Não é que as mulheres queiram diminuir o espaço dos homens, como se não fosse o futebol masculino que “sustenta” os clubes. Mas faz mais sentido olhar para as equipes femininas assim como se olha para as divisões de base: um investimento que pode dar frutos. E que precisa fazer parte da cultura do clube.
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