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AnalistasJuliana Lisboa

O que as federações nordestinas podem aprender com a FPF

Federação conseguiu firmar parcerias de produção de conteúdo e transmissões em todos os jogos

Corinthians venceu a edição 2019 sobre o São Paulo (Foto: Bruno Teixeira/ Ag. Corinthians)

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A Série A2 vai se afunilando, o nível vai aumentando e as equipes nordestinas – em especial as que não conseguiram classificação para a fase de mata-mata – ficam sem calendário senão por um torneio importante que, por sinal, dá vaga para a segunda divisão do nacional: o estadual.

Mas, diante do cenário de pandemia e incertezas com cronogramas e planejamentos, pouco tem se falado nos estaduais femininos. Tomando como exemplo apenas federações dos times que se classificaram para a segunda fase, Ceará, Pernambuco, Bahia e Piauí, apenas os dois primeiros garantiram a realização do torneio.

A Federação Bahiana de Futebol disse que ainda não “bateu o martelo” sobre a realização do Baiano Feminino, enquanto a Federação de Futebol do Piauí ainda não respondeu a reportagem (e não se manifestou de forma espontânea no site oficial). Já Mauro Carmélio, presidente da Federação Cearense – única com duas equipes classificadas, Ceará e Fortaleza – afirmou que o edital para a realização do certame foi publicado no dia 17 deste mês. “A expectativa é que o estadual seja realizado com seis times até dezembro”, disse. A federação mais avançada é a de Pernambuco, cujo estadual começa neste domingo (22/11).

A situação da pandemia já complicou um cenário que precisava de melhorias: o nível técnico dos estaduais nordestinos, assim como os de boa parte do país, deixa muito a desejar. E para isso é necessário olhar pra fora e ver onde as coisas estão dando certo para replicar.

Ana Lorena Marche, diretora de futebol feminino da FPF (Foto: Rodrigo Corsi / FPF)
Olhar pra quem?

Dá pra afirmar, sem medo nenhum de errar, que o estadual feminino de São Paulo é o mais competitivo, melhor organizado e sustentável do Brasil inteiro. Méritos da Federação Paulista de Futebol que tem, desde 2017, um departamento dedicado à modalidade.

Claro que existem problemas e algumas disparidades, próprias da modalidade que ainda se profissionaliza, mas os pontos positivos do torneio se acumulam desde o ano passado: em 2019, as finais foram transmitidas pelo SporTV, sendo o único estadual a ser transmitido em televisão comercial; conseguiu patrocínio próprio e, em 2020, em plena pandemia, a FPF fechou uma parceria com transmissão de todos os jogos pelo Facebook com cobertura das Dibradoras e, agora na fase final, as partidas também são transmitidas pela TV Cultura.

O blog ouviu, com exclusividade, Ana Lorena Marche, que assumiu a diretoria de futebol feminino da FPF após a saída de Aline Pellegrino para a CBF, onde coordena as competições nacionais. Ana Lorena trabalha na FPF desde janeiro deste ano, quando aceitou a proposta de Aline, então diretora, e ajudou a FPF a montar projetos de capacitação e planejamentos estratégicos durante a pandemia.

Parceria com transmissões

“Temos uma parceria de transmissão com o Facebook e também com o MyCujoo, é muito importante que sejam todos (os jogos) para que os clubes, principalmente os menores, possam assistir, gerar relatórios, e conseguir patrocínios. A qualidade das transmissões também está melhorando, a gente está pensando no torneio como produto, como placa, microfone, camisa das transmissoras, as repórteres, as narradoras. Tem um ‘por trás’ muito forte. A gente fez uma parceria com as Dibradoras e também com outros grupos, outros blogs para que o telespectador cada vez mais tenha acesso a conteúdo. Temos também a produção da websérie “Absolutas”, que também é conteúdo, que também é produção.”

Conversamos também com Roberta Nina, integrante das Dibradoras, que participa das transmissões do Paulistão. Ela fala sobre a forma dos os conteúdos desenvolvidos para divulgar e fortalecer o torneio.

Roberta Nina em um dos vídeos das Dibradoras sobre o Paulista Feminino

“A gente sempre participou da cobertura do Paulistão e tentamos sempre inovar, indo a campo fazer stories, produzir conteúdo de bastidores. A pandemia fez a gente trabalhar de jeito diferente: as coletivas são feitas online e agora usamos mais ainda as redes sociais para transmitir e fazer conteúdo. A diferença é que a cobertura é parte da transmissão, em formato de crossposting entre FPF e Dibradoras, e a parceria que fizemos com o Facebook em formato web. Então fazemos entrevistas, gols, como chega cada equipe, e agora, grandes mesas redondas, conteúdo de vídeos de 10 minutos em que analisamos a rodada e destacamos o que está acontecendo.”

Departamento exclusivo

Ana Lorena fala que o grande salto do futebol feminino de São Paulo veio junto com a criação de um departamento exclusivo para a modalidade na federação, e que isso ajuda a mapear os problemas e ajustar o que precisa de melhorias.

“A FPF evoluiu muito nos últimos quatro anos com a chegada da Aline mas também com a chegada de um departamento exclusivo para se pensar no produto e exclusivo para se pensar como que é essa competição. Neste ano fizemos uma parceria com a FERJ para um summit muito legal de capacitação de pensar o futebol feminino. Acho importante que as federações se fortaleçam, estamos vendo algumas já criando seus departamentos, acho que vai fortalecer os times, as competições, vai aumentar o número de clubes e também de competições, vai aumentar o número de atletas praticantes e consequentemente o nível dessas atletas. E assim a gente vai subir o nível do futebol feminino brasileiro.”

Para Nina, a gestão anterior foi a grande responsável por transformar a FPF na referência que se tornou para a modalidade e mostra que é possível tornar um campeonato estadual atraente mesmo longe das transmissões tradicionais e num cenário de pandemia.

“O trabalho da Aline deixou frutos. Ela ajudou a melhorar o Paulistão, fomentou as categorias de base… E por isso eu vejo que há ainda um abismo entre outras federações do Brasil de uma maneira geral até em estados mais organizados, como por exemplo o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro, Minas Gerais… Quando a gente vai pra outros centros mais distantes como o Norte, o Nordeste, que ainda precisam se desenvolver, fica mais evidente. Acho que essa passagem de Aline Pellegrino pela FPF mostra que dá pra ter transmissão dos jogos fora da TV, dá pra ter um diálogo com os clubes, ver no que dá para ceder, no que dá para cobrar mais… Ouvir a demanda dos clubes e tomar decisões em conjunto, porque o produto tem que ser interessante pra todo mundo: federação, clubes, jogadoras, dirigentes, treinadores e público.”

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