O caso de acusação de racismo supostamente cometido pelo meia Indio Ramirez do Bahia contra Gerson, do Flamengo, ganhou mais um episódio na tarde desta quinta-feira (24), véspera de Natal. Citado em laudo encomendado pelo clube carioca, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) emitiu uma nota de esclarecimento, onde reconhece que dois dos técnicos que participaram da análise fazem, de fato, parte do quadro da instituição. Entretanto, esclarece que o órgão não possui competência para análise de leitura labial, tampouco autorização para prestar serviços privados contratados por terceiros, por se tratar de um órgão público.
O laudo requisitado pelo Flamengo foi diretamente ligado ao INES pelo vice-presidente jurídico rubro-negro, Rodrigo Dunshee, em seu perfil pessoal do Twitter. De acordo com ele, o laudo reiterava a acusação de Gerson, que alega ter ouvido de Ramírez um xingamento racial durante uma discussão em campo, na partida do último domingo pelo Campeonato Brasileiro.
Por sua vez, o Bahia apesar de considerar a denúncia como válida, realizou uma investigação própria com base em imagens, áudios, depoimentos dos atletas e da arbitragem na súmula. Segundo informou nesta quinta-feira o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, não foi constatada qualquer palavra de cunho racista por parte de Ramírez, sendo o jogador reintegrado de forma imediata ao grupo Tricolor.
O caso ainda será avaliado pelo STJD em julgamento sem data marcada, após a CBF solicitar um inquérito sobre a denúncia. Ramírez, que nega a denúncia, e o ex-técnico do Bahia Mano Menezes também responderão civilmente sobre a acusação na Delegacia de Crimes Raciais.
Confira a nota do INES na íntegra
NOTA DE ESCLARECIMENTO
A Direção Geral do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) vem a público prestar os devidos esclarecimentos acerca de informações veiculadas em alguns meios de comunicação, de diferentes mídias, e que envolvem este Instituto. Na oportunidade, foram divulgadas várias reportagens noticiando uma suposta participação do INES na elaboração de laudo técnico em que se comprovaria o teor da fala de um jogador de futebol pertencente a uma determinada agremiação esportiva. Sobre a situação o INES tem o seguinte a elucidar:
a) dos três profissionais responsáveis pela elaboração do parecer técnico, dois deles, embora pertencentes ao quadro de servidores da Instituição, em que ocupam o cargo de Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais, não o fizeram representando o INES, mas sim de forma particular;
b) o INES, a despeito de possível expertise que possa vir a ter qualquer um de seus servidores, não possui a competência para se manifestar sobre questões que requeiram habilidades de “leitura labial”;
c) o INES, na qualidade de instituição federal de ensino vinculada ao Ministério da Educação, não possui autorização regimental para prestar serviço em prol de interesses privados a pessoas físicas ou jurídicas, sendo seus recursos humanos e materiais integralmente voltados para a realização das políticas públicas que lhe são legal e regimentalmente atribuídas.
De toda forma, considerando que o tema trazido à baila circunstancia fatos que supostamente teriam caracterizado a prática de crime de injúria racial, aproveitamos, mais uma vez, a oportunidade para manifestarmos nosso incondicional apoio à disseminação de políticas antirracistas.
Até o momento, na minha modesta opinião, a principal lição que podemos tirar dessa história é a necessidade de efetuar um julgamento seguindo o rito do devido processual legal. O clima de linchamento e cancelamento do atleta tricolor quase impediu que o jogador tivesse direito a apresentar uma defesa. A decisão sobre a acusação de Gerson ainda padece de resolução, porém eventual condenação ou absolvição só serão legitimas se for observado o devido processo legal.