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Não dá para lembrar exatamente quando você passou a torcer por um time de futebol. É algo que praticamente nasce junto com a pessoa. Geralmente, pesa a influência familiar, do pai, da mãe, tios, irmãos, primos…Mas o fato é que o seu clube faz parte da sua identidade cultural. Do berço. Quase do DNA. E foi assim comigo.

Sou Náutico desde que me conheço por gente. Sou Náutico antes de saber que futebol existe. Meu pai costuma dizer que minha primeira vez em um estádio para ver um jogo foi com meses. Mas minha primeira lembrança é da chuva de papel picado em algum jogo no Arruda nos anos 80, do qual não faço ideia do adversário e muito menos do resultado.

Na sequência, no meu arquivo afetivo, veio o título pernambucano de 1989 (que meu pai assistiu pela televisão), os primeiros ídolos (Bizu e Nivaldo, com autógrafo dado em um baile do Timbu Coroado, no carnaval), os duros anos 90 e o título do centenário em 2001, o mais especial pra mim. Equivalente ao tetra da seleção brasileira em 1994. Ali foi a minha libertação plena como torcedor alvirrubro. A primeira cachaça com os amigos graças ao futebol (algo que obviamente não rolou em 1994). Um brinde.

E logo em seguida, por escolha própria, minha relação com meu clube de coração ganhou um novo capítulo. Uma nova dimensão. A partir de 2003 passei a trabalhar na imprensa esportiva. E desde sempre sabia que, ao cruzar essa linha, a relação seria diferente. Não, obviamente, sem aprender algumas lições. Como a dada, quando ainda era estagiário, pelo amigo Wladmir Paulino durante a cobertura de um clássico contra o Santa no Arruda. Após vibrar com um gol do Náutico, Paulino se virou para mim e disse: “quer torcer? Vá para a arquibancada. Aqui não”. 

Nunca mais esbocei qualquer reação emotiva em uma cabine de imprensa. Nem em qualquer cobertura. Nem quando entrevistava os campeões de 2004, no gramado do Arruda, com meu irmão, que estava na arquibancada, ligando insistentemente para o meu celular e pedindo para eu tirar “uma foto ao lado da taça, de Kuki, de Nilson…”

No ano seguinte, também como jornalista, fui proibido de entrar no Náutico, pela diretoria da época, após a Batalha dos Aflitos, por ter publicado no Jornal do Commercio, no dia do jogo, uma matéria que denunciava as armações que o clube preparava para o Grêmio. Como a proibição do time gaúcho aquecer no gramado, a construção de um muro dividindo o vestiário, que havia sido pintado na véspera e o bloqueio das passagens de ar, o que transformou o espaço em um inferno.

Voltei a cobrir o clube outras vezes. Vi os milagres de Eduardo contra o Santos, na última rodada da Série A de 2008, garantindo o Náutico na Série A, a falha de Gledson na semifinal contra o Sport no estadual de 2011, o acesso à Série A no mesmo ano, a queda para a Série B em 2013 e para a C em 2017. 

E procurando sempre uma versão de mim mesmo de Superman e Clark Kent, sendo jornalista quanto estou trabalhando e 100% torcedor quando estou na arquibancada. E assim foi em 2018, por exemplo. Era setorista do clube, mas pedi para folgar no dia da final contra o Central. Fui um dos 42.352 alvirrubros naquela tarde na Arena de Pernambuco (recorde do estádio em jogos de clube). E no fim do jogo, com o título garantido, liguei para Bento, meu filho então com oito anos, e ouvi do outro lado da linha um legítimo “É campeão”. Chorei. Feito um menino de oito anos. O DNA alvirrubro segue em frente. 

Parabéns Náutico pelos seus 120 anos. E obrigado.

3 Comentários

1 comentário

  1. HELIONILDA SOUZA DE ANDRADE

    7 de abril de 2021 a 14:08

    Muito boa matéria um pouco da sua autobiografia como torcedor alvirrubro como todos sabem.Como profissional imparcial procurando sempre relatar o jogo sem deixar o torcedor que existe em vc falar mais alto.Parabens.

  2. Antonio Silva Jr

    7 de abril de 2021 a 20:44

    Texto emocionante!

  3. Cleyton Fernande da silva

    12 de abril de 2021 a 13:55

    Sou torcedor do Sport, mas esse relato foi de arrepiar. João é um cara do bem, parabéns ao aniversário do Timba.

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