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Futebol feminino vira negócio de família na Bahia

Juliana Lisboa, Analistas, BA, Podcasts

Por Juliana Lisboa

Por Juliana Lisboa

Postado dia 24 de abril de 2021

Aos cinco anos, as gêmeas baianas Maria Clara e Maria Eduarda (hoje com 18 anos) já davam amostras da personalidade forte: trocaram o balé por artes marciais. Algum tempo depois as duas se apaixonaram pelo futebol e resolveram, na adolescência que queriam ser atletas profissionais. Um desafio e tanto para Vênus Andrade, que, além de mãe solo, arrumava formas de tentar estimular as filhas.

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Vênus com Maria Eduarda e Maria Clara, na época, aos 15 anos (Foto: acervo pessoal)

“Nas aulas de luta elas já eram as únicas meninas, mas isso nunca incomodou minhas filhas e nem a mim. Mas quando chegou no futebol foi mais complicado porque eu não sabia onde elas poderiam jogar. Então além do preconceito – porque existia até com gente da nossa família – eu tive que procurar onde minhas filhas poderiam treinar”.

Para bancar as escolinhas, encontrar as bolsas em colégios particulares e academias profissionalizantes em Salvador, Vênus resolveu, também ela, se lançar a uma paixão: a moda. Em 2019 ela lançou uma marca de roupas femininas com apostas em tendências afro para viabilizar o projeto das filhas – que já sabiam que queriam sair do país.


“A confecção surgiu por inspiração das minhas filhas. Foi graças a elas que eu comecei minha própria desconstrução enquanto mulher negra. Parei de alisar o cabelo, fiz transição capilar, passei a ficar mais em contato com estampas e peças que tinham a ver com nossa ancestralidade. Foi também graças a elas que eu tive coragem para empreender. Então nada mais justo que essa marca levasse o nome delas”.

Vênus Andrade, empreendedora e dona da marca Maria’s Moda Black

Com o ateliê inicialmente montado no apartamento onde moram, no bairro popular Narandiba, a Maria’s Moda Black foi quem bancou a parte final da formação de Maria Clara e Maria Eduarda. As vendas acontecem principalmente por feiras de empreendorismo ou, mais recentemente, por conta da pandemia, através das redes sociais e pelo WhatsApp.

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Vênus em feira de moda em Salvador já durante a pandemia (Foto: acervo pessoal)

Além de jogarem bola (as duas são meio-campistas com passagens pela dupla Ba-Vi e Lusaca), Maria Clara e Maria Eduarda concluíram os estudos e falam inglês fluentemente – importante para jogar no exterior.

A meta original era que elas fossem aos Estados Unidos, onde conseguiram bolsas parciais em universidades americanas. Só que o custo de manter as duas era ainda era muito alto.

O irmão de Vênus, que mora em Portugal, sugeriu que as meninas mudassem o foco para a Europa, que está se desenvolvendo na modalidade. Uma nova meta foi, portanto, traçada.

E é aí que o futebol feminino entra em cena no mundo da moda. Para que Maria Clara e Maria Eduarda possam viajar de Salvador para Porto em setembro, Vênus teve uma ideia para turbinar as vendas na loja e contemplar o público feminino que gosta de jogar bola: uma coleção de camisas que estampasse expressões e frases marcantes do futebol feminino… Com um toque de regionalismo.

A coleção “Boleiras”, portanto, já nasceu ousada: junta a viabilidade financeira da realização de um sonho (ou dois, se contar o da própria Vênus em manter sua marca) e valorizar uma modalidade que ainda enfrenta muito preconceito.

“Eu gostei muito daquela música ‘Jogadeira’, que a seleção feminina cantava na Copa do Mundo de 2019, na França. Aí peguei algumas frasses dessa letra e também frases do cotidiano de quem joga bola para ilustrar esse mundo delas, do futebol feminino daqui da Bahia. E o resultado me deu muito, muito orgulho, porque vi que minhas filhas se viram representadas nessas camisas. Elas e tantas outras meninas”.

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1 Comentário

  1. Deise itaci Andrade Bastos

    Como irmã de Vênus e TIA coruja das Marias. Sem muito bem dessa luta e dos preconceitos vividos por minhas Marias.Hoje orgulho imenso de ter acompanhado e participado de sua luta irmã. Vocês são vencedoras!! BOLA PRA FRENTE O FUTEBOL É PARA MENINAS SIM.

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