Último Clássico das Multidões com torcida aconteceu em 7 de março de 2020
Era 7 de março de 2020, um sábado, e o Sport vencia o Santa Cruz por 1 a 0, pela Copa do Nordeste, na Ilha do Retiro. O que ninguém poderia imaginar ali é que este clássico seria o último com a presença das duas torcidas nos três anos seguintes. Àquela altura, pouco mais de uma semana depois, a pandemia do coronavírus se agravou, os estádios ficaram fechados e as multidões impedidas de apoiarem seus clubes.
Para este sábado (10), contudo, o cenário, enfim, mudou. E com reviravolta. Inicialmente, a partida seria disputada apenas com a presença de rubro-negros. No entanto, o Governo de Pernambuco recuou na medida e liberou torcida visitante nos duelos envolvendo Náutico, Santa Cruz e Sport. Assim, o Clássico das Multidões voltará a ser das multidões. Como sempre foi em toda sua centenária história.
Desde o último embate com público entre, aliás, foram quatro duelos envolvendo Sport e Santa Cruz, com uma vitória para cada lado e dois empates. Nesse recorte, portanto, os Clássicos das Multidões foram disputados de portões fechados. Foram dois na Ilha do Retiro (um triunfo coral e outro empate) e dois no Arruda (uma vitória rubro-negra e um empate).
Neste sábado, novamente na Ilha do Retiro, às 16h30, o embate é válido pelo Campeonato Pernambucano, e os times chegam em momentos distintos. O Sport é líder do Estadual, enquanto o Santa Cruz é o sétimo – vale lembrar que a Cobra Coral possui dois jogos a menos em relação ao Leão.
Clássico das Multidões: lado rubro-negro quer fazer valer mando de campo
Pelo lado rubro-negro, os torcedores, naturalmente, querem fazer valer o mando de campo ante o rival. Presentes na maioria dos jogos do Sport, os amigos Renato Burle e Douglas Rebouças comemoraram a decisão de o Clássico das Multidões voltar a ser com duas torcidas nos estádios.
“Particularmente estava torcendo para ter as duas torcidas nos estádios, mesmo o Sport sendo prejudicado, porque jogou os dois clássicos como visitante sem torcida. Um clássico tem que ter duas torcidas. Clássico de uma torcida só não é a mesma atmosfera. Torcida única em clássicos é transferência de responsabilidade”, disse Renato Burle, de 26 anos, e que é administrador.
Assim como Renato, Douglas também vai à Ilha do Retiro neste sábado para acompanhar o clássico entre Sport e Santa Cruz. Ele também comemorou o retorno das duas torcidas aos estádio e projetou um jogo difícil, apesar de enxergar favoritismo para o Leão em virtude do momento vivido pelas equipes.
“É um clássico que para o estado e move multidões. O verdadeiro torcedor não pode ser penalizado por uma minoria que utiliza o ambiente do futebol para cometer crimes. (…) Minha expectativa é de um jogo muito difícil. O Sport se coloca como favorito pela fase que vem atravessando, porém, por se tratar de um clássico tão grande, acredito que será um jogo disputado até o minuto final”, projetou Douglas Rebouças, de 26 anos, e que é analista de vendas.
Até esta tarde de sexta-feira, um total de 15.407 ingressos já haviam sido vendidos para o Clássico das Multidões.
Tricolores afirmam que preço de ingressos pode atrapalhar ida ao Clássico das Multidões
De volta como visitante à Ilha do Retiro, a torcida tricolor teve uma surpresa negativa após a liberação do preço dos ingressos. Considerado por muitos torcedores como abusivo, o valor poderia ser um impeditivo para que os corais se façam presentes no encontro entre Sport e Santa pelo Estadual.
“O preço estava bastante salgado. Houve a abertura para comprar a meia entrada, mas esgotou quase instantaneamente. Fiz um esforço financeiro para estar presente, mas tenho certeza que o preço do ingresso vai impedir muita gente de ir”, apontou o professor Diogo Xavier.
Vale destacar que o presidente do Santa Cruz, Antônio Luiz Neto, conseguiu reduzir o preço dos bilhetes para a torcida coral – antes cobrado a R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia), os bilhetes passaram a custar R$ 50 e R$ 25, respectivamente.
“Esse valor só baixou após as duas diretorias fazerem um acordo para que fosse feito um valor reduzido, que ainda assim é muito elevado para quem quer estar na Ilha sábado. Acho R$ 50 um valor muito acima, especialmente quando pensamos que é uma competição de início de temporada e na condição socioeconômica que vivemos no estado”, complementou.
Contudo, mesmo com essa valor elevado, Diogo salienta que a vontade de estar na casa do rival no primeiro Clássico das Multidões da temporada tem dois motivos: o primeiro é voltar a ter a possibilidade de vivenciar um embate como visitante e, em segundo lugar, relembrar as campanhas corais vitoriosas na Ilha do Retiro na última década.
“(Voltar à Ilha) vai ser uma experiência muito boa. Estamos há anos sem ter torcida visitante em jogos entre Sport e Santa Cruz. É uma experiência incrível você estar em um clássico dessa magnitude seja de local ou de visitante. E poder voltar à Ilha do Retiro, para rememorar os bons momentos vividos na última década, vai ser muito positivo”, acrescentou.
Críticas à política de torcida única do Governo de Pernambuco
Por fim, após a queda do decreto assinado em 30 de janeiro de 2023 pela governadora Raquel Lyra, que instituía a torcida única em estádios de Pernambuco para clássicos estaduais e válidos pela Copa do Nordeste, a medida segue sendo bastante criticada pelos torcedores do estado.
Segundo Diogo, a decisão não ataca o verdadeiro problema da segurança pública. De acordo com relatos do torcedor, a questão da violência na cidade em dia de Clássico das Multidões está muito mais presente nos arredores e acessos ao estádio do que na praça esportiva em si.
“A decisão de torcida única já se provou ineficaz. É ridículo achar que vai acabar com o problema da violência tirando torcida visitante dos estádios. A gente sabe que a violência do futebol está localizada sobretudo nos arredores e no caminho de ida e volta do que propriamente nos estádios”.
“Essa ideia proíbe o torcedor de ter direito a vivenciar e não acaba com a violência. Ela não vem acompanhada de outras medidas que tenham como objetivo a paz e não tem interesse em compreender o funcionamento das torcidas de futebol. Proibiram bateria e entrada de torcida visitante, mas não entenderam e nem buscaram combater o problema no seu conjunto e na sua estrutura, sendo apenas um paliativo que não tem efeito nenhum”, arrematou.
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