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Um título libertador. Um Náutico sem fantasmas

Foto: Tiago Caldas/CNC

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Qual o peso de um título? Para responder essa pergunta há dois caminhos. O racional e o emotivo. Mas para explicar a importância da conquista do Campeonato Pernambucano de 2021 pelo Náutico, não há outra forma a não ser por aquilo que se sente, além do que se vê. Por uma dimensão que está muito acima de apenas mais uma taça, o 23º estadual do clube. Um título se torna especial quando ele é libertador. E o Náutico a partir desta segunda-feira, 24 de maio de 2021, é um time zerado de traumas, marcas, fantasmas. Um clube com um livro inteiro de páginas em branco para ser preenchido daqui para frente, com letras vermelhas.

Desde 2018, quando Edno Melo assumiu a presidência do clube, o Náutico foi pouco a pouco limpando feridas que incomodavam. Nesse mesmo ano, voltou a ser campeão pernambucano após 14 anos de jejum. Um respiro importante. No ano seguinte, já de volta aos Aflitos (outro marco histórico da gestão), o retorno à Série B em um jogo épico contra o Paysandu. Onde vários estigmas negativos foram derrubados. Ao sair de um 2 a 0 para um 2 a 2, com um pênalti no último minuto e depois conseguir o acesso em uma nova disputa de pênaltis, caiu o trauma do time que não chega, que não tem forças para sair de uma situação adversa, que treme, que é azarado. Página virada.

Porém, faltava mais uma. E que não é vergonha nenhuma em admitir que incomodava. Não vencer o Sport, seu maior rival, em uma decisão há 53 anos, fugia de qualquer padrão lógico do futebol. Entrava naquele ladainha de coisas que “só acontecem com o Náutico”. Foram dez finais perdidas. Em 2019, após uma incrível reação na Ilha, virando a partida e levando a decisão para os pênaltis, parecia que o Náutico, ainda pré Paysandu, iria prevalecer. Mas contra o Sport, não seria dessa vez. Parou em Mailson. 

Este ano, nova chance. E com um time melhor organizado e excelentemente treinado por Hélio dos Anjos, foi melhor nos dois jogos decisivos contra o Sport. Mas não conseguiu decidir no tempo normal, tomando o gol de empate nos Aflitos cruelmente aos 41 do segundo tempo. De novo, decisão nos pênaltis. De novo? Além de 2019, o Náutico já havia perdido uma decisão de estadual nos pênaltis para o Santa Cruz em 1983. Assim, o que era confiança se transformou em dúvida, desconfiança e pessimismo. Que se tornaram em certeza de um novo fracasso com a cobrança ridícula de Giovanny (“só acontece com o Náutico…”).Cicatrizes expostas.

Mas em 2021 o futebol tem VAR, bendito VAR. Que torna o futebol mais justo. E por justiça, o título não poderia ter outro dono que não fosse o Náutico. O gol de Kieza soltou não apenas um grito de campeão. Soltou um grito de desabafo.

O Náutico desta segunda-feira, 24 de maio de 2021, não é o mesmo Náutico que começou o domingo 23. Que venham novas alegrias, novas decepções, novas lamentações, novas missões (como conseguir um título da Copa do Nordeste e o retorno à Série A, por exemplo). Porque futebol é feito disso. Mas para o Náutico, agora, tudo é daqui para frente. Sem nenhum fantasma do passado.  

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