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Trabalho, Mailson, Magrão e mais: preparador repassa ano no Sport

Jorcey Anisio tem sido bastante elogiado pelo desempenho dos goleiros

Jorcey Anisio chegou ao clube há quase um ano, por indicação de Jair Ventura. Foto: Anderson Stevens/ Sport Recife

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É praticamente consenso entre as pessoas que acompanham o Sport a evolução apresentada pelos goleiros da equipe desde a chegada do preparador Jorcey Anisio, no início do Campeonato Brasileiro de 2020. Prestes a completar uma temporada no clube (em agosto), o profissional de 48 anos conversou, no início da noite da última quinta-feira, de forma exclusiva com o NE45 para repassar o trabalho realizado até aqui.

Dentre os temas abordados, falou sobre a chegada ao clube, metodologia aplicada junto aos goleiros, evolução de Mailson – atual titular – e também uma atenção ao aspecto psicológico dos jogadores da posição por conta da recente história de Magrão, um dos maiores ídolos de clube e que jogou até dois anos atrás.

Antes de ser treinador, aliás, Jorcey atuou como goleiro. Revelado pelo Flamengo, passou ainda pela Desportiva Ferroviária, Olaria, Barreira, Barra Mansa, União Madeira-POR, União Barbarense, Londrina, CFZ e Juventus, onde se aposentou aos 30 anos por conta de uma lesão no ligamento do joelho, que abreviou a carreira.

A partir de então, fez graduação e pós-gradução em educação física para se especializar enquanto preparador de goleiros, trajetória iniciada no Olaria, com passagens pela base do CFZ, Flamengo, Al-Shabab-SAU e seleções da Arábia Saudita (profissional) e Brasileira (base), além de Avaí, Botafogo e Atlético-MG, último clube antes de chegar ao Recife. E é a partir daqui que começa a entrevista.

Entrevista com Jorcey Anisio

Como ocorreu a sua vinda para o Sport? 

“Convite veio através de Jair (Ventura), quando ele assumiu. Me disse que o clube estava precisando de um profissional, perguntou se eu me interessava. Eu falei que sim, que aceitava, ele passou meu nome para a direção. E pesquisei, fui analisar os goleiros que tinham no clube. E era uma vontade minha trabalhar aqui, minha primeira oportunidade de trabalhar no Nordeste. Então quando surgiu essa oportunidade prontamente me interessei, me desliguei do Atlético-MG para poder vir porque achava que era uma oportunidade boa, trabalhar em um grande time. E tinha esse desejo de trabalhar aqui. Então acho que juntou o meu desejo com a oportunidade que pintou no momento. Foi um acerto que acabou sendo bem fácil”.

Você disse que tinha o desejo e a expectativa de trabalhar aqui no Nordeste. Como tem sido para você após esse quase um ano no Recife? Cumpriu as expectativas?

“Tem sido bom, a estrutura do Sport é boa, a cidade eu estou gostando muito. Uma cidade agradável, as pessoas têm uma receptividade muito boa. A única coisa ruim é essa pandemia, que já estamos há mais de um ano. Mas fora isso tenho gostado muito da cidade, do ambiente, do ambiente do clube, os profissionais. Temos um ambiente muito bom. Correspondeu à expectativa que eu tinha, tudo que eu imaginava aconteceu. O meu maior desejo no momento é poder jogar com a torcida do Sport a meu favor. Tive a oportunidade de jogar contra, vim algumas vezes, e sei que é uma torcida apaixonada, que acompanha o clube, sempre me incentiva. Minha vontade é que possamos vivenciar esses momentos. E o pessoal tem uma interação boa comigo através das redes sociais. A performance dos goleiros me deixa satisfeito, estou aqui para fazê-los evoluir cada vez mais. E a gente fica satisfeito quando ver esse reconhecimento do torcedor”.

Existe uma percepção da imprensa e da torcida que os goleiros do Sport evoluíram bastante desde a sua chegada. Você concorda? E como você avalia o nível deles de lá até aqui?

“Acho que a evolução é notória para todo mundo. Todo mundo vem elogiando, falando da evolução. Luan (Polli) fez uma Série A no fantástica no ano passado, um dos principais responsáveis pela nossa permanência, ele tem uma grande parcela de contribuição nisso. Mailson vem fazendo uma Série A muito boa. Quando cheguei vi que eram goleiros com muita qualidade, mas também muito potencial a ser desenvolvido, trabalhado, os três. E atacamos esses potenciais e eles compraram a ideia. Temos uma relação muito aberta, muito honesta, olho no olho. Eu cobro muito, exijo muito, a gente brinca, mas minha busca é pela performance, melhora. A perfeição a gente nunca vai atingir, mas trabalhamos para chegar muito próximo. Sabemos que os erros acontecem e nosso trabalho é minimizar. E fui atacando os potenciais que poderiam ser desenvolvidos e acho que os resultados vêm aparecendo, como apareceu com Luan, com Mailson, todo mundo falando que ele vem mais seguro e fico satisfeito”. 

O Sport, só nesta temporada, teve três goleiros titulares diferentes e sempre por opção técnica, isto é, escolha do treinador. Como você analisa essa, digamos, alternância? E como manter os três motivados e estimulados? 

“São três goleiros que qualquer um dos três, o que jogar, tem minha total confiança. E como é (também) a expectativa do torcedor. Acho que o Sport está muito bem servido, mas infelizmente o goleiro só joga um. A disputa é sadia, com respeito. Ano passado Mailson saiu da equipe, Luan jogou, e Mailson e Carlos (Eduardo) trabalharam muito. Eles têm que estar prontos porque nunca sabem quando a oportunidade vai aparecer. Os três têm que estar prontos. E o exemplo disso aconteceu quando Luan saiu da equipe, entrou Carlos, foi muito bem, infelizmente teve a lesão, Luan retornou e pegou pênalti (contra o Central), depois foi expulso contra o Afogados, Mailson entrou, fez bons jogos, teve sequência e está aproveitando o momento. É o que falo, eles têm que estar prontos porque nunca sabemos quando a oportunidade vai passar. Os três tiveram oportunidades de jogar, cada um por um momento, e têm que estar prontos. Trabalhamos muito forte, existe essa cobrança diária, eles se dedicam muito, se entregam muito, compraram a ideia do trabalho. O que me deixa satisfeito é que os três quando jogaram foram bem: Luan ano passado, Carlos (antes da lesão), e Mailson agora”.

O Sport teve, por 14 temporadas, até 2019, o goleiro Magrão como titular. Isso foi levado em conta no trabalho?

“A primeira conversa que tive com eles foi em relação a isso porque Magrão é um ídolo, o maior goleiro que o Sport já teve. E o que eu sentia é que tanto a mídia, quanto a torcida, existia uma pressão grande para encontrar o substituto de Magrão. E minha conversa com eles é que Magrão é insubstituível, ninguém vai substituir. O que eles tinham que fazer era tirar o peso e cada um escrever a própria história. Sentia que havia esse comparativo e eles tinham essa preocupação, trabalhamos também a parte psicológica porque Magrão ninguém vai substituir. Então eu acho que eles conseguiram absorver essa parte. Por mais que exista essa cobrança, eles conseguiram tirar esse peso. Percebo que houve essa mudança de não ter essa preocupação. E não tem para que uma preocupação que não tem como mudar. Ninguém vai substituir Magrão e é um peso a mais que eles levavam sem necessidade. Acho que a parte psicológica, junto com a parte técnica, é tão importante quanto”.

Mailson (esquerda), Carlos Eduardo (centro) e Luan Polli (direita) durante treinamento. Foto: Anderson Stevens/ SCR

Falando agora sobre o atual titular do Sport, que é Mailson, existe uma percepção que ele passou por um grande crescimento e, dos três, talvez tenha sido quem mais evoluiu. Qual avaliação você fez do momento dele? E foi feito algum trabalho específico? 

“Houve tanto na parte psicológica e, principalmente, na técnica. Via Mailson com um potencial bom a ser desenvolvido. Importante relatar que Mailson começou a jogar futebol tarde, com 18 anos, hoje ele tem 24, ou seja, são seis anos de atleta. Então Mailson não teve a formação na base, que é onde se erra, acerta, aprende. Mailson não teve essa formação. Então eu via que faltavam ainda alguns fundamentos que ele não teve oportunidade de trabalhar ou desenvolver. E começamos a atacar em cima disso. Ele é um garoto que escuta muito, muito interessado em aprender. E esse tempo que ele ficou fora (na reserva, de setembro do ano passado até abril deste ano) intensificamos muito em cima de fundamentos que ele poderia melhorar, desenvolver a parte técnica, de fundamento, jogo com os pés, posicionamento, saída de gol, chegar firme, não ir para espalmar. E ele foi absorvendo tudo isso. E temos feito ainda, acho que Mailson tem muito a evoluir, tem um potencial muito bom, temos trabalhado muito no dia-a-dia. Ele é um garoto muito dedicado, tenho uma maneira de trabalhar mostrando tudo o que a gente faz, com vídeos, vemos o que poderia ter sido feito, onde pode melhorar. E hoje ele observa situações sem eu nem precisar mostrar no vídeo. É sinal que ele vem amadurecendo, observando”.

Pode-se dizer que, dos três, a evolução de Mailson é a que mais salta aos olhos? 

“O trabalho é o mesmo, a atenção, dedicação é a mesma para os três. O trabalho é igual a atenção que se dá para um, se dá para o outro. Mas acho que a evolução mais notória vem sendo de Mailson até pelos jogos que vêm fazendo”.

Para além da confiança embaixo das traves, Mailson também tem ido muito bem no jogo com os pés. 

“A gente trabalha, futebol evoluiu muito e acompanhamos. Trabalhamos muito esse quesito também. Mailson tem uma qualidade muito boa, tanto com a direita, tanto com a esquerda, mas a gente trabalha bastante o jogo com os pés, de poder estar inserido nesse jogo que os goleiros participam. Acho que teve uma evolução boa, o próprio Luan e Mailson, que jogaram mais, vêm tendo essa evolução. Ainda existe uma deficiência ou outra (com os pés), mas têm evoluído. E Carlos também vem trabalhando, treinando bem. Carlos está pronto, esperando o momento dele. É um goleiro rápido, arrojado, qualidade muito boa e está pronto, aguardando”.

Treinamento no dia-a-dia. 

“O trabalho, primeiro, é macro, abrange os três. Faço um (treinamento para os três), com objetivo dos três. Lógico que sabemos o que cada um necessita, uma coisa ou outra. E aí atualizo nesta questão. Se Carlos precisa de uma questão X, faço complemento onde ele precisa desse fundamento. E aí nessa parte faço individual. O primeiro trabalho é macro, onde identifico a deficiência. Trabalho para que eles evoluam. E fico feliz quando conseguem perceber a evolução deles, como teve com Luan, tem com Mailson agora. Posso dizer que meu trabalho vem sendo bem realizado e pude elevar o nível deles”.ute

Falando particularmente de você, quais objetivos tens na carreira? 

“Meu objetivo, que me cobro muito, é me tornar um dos melhores do Brasil. Tenho um sonho, quem sabe um dia, tive a oportunidade de trabalhar nas seleções de base, quem sabe eu trabalhe na seleção principal. Mas minha briga é comigo mesmo, busco sempre evoluir cada vez mais. Sou um cara que me cobro muito, em termos de trabalho, resultado. Sempre me atualizo, me aprimoro, faço vários cursos de treinamento de goleiro. Sempre temos que aprender”.

Espaço para considerações finais, deixa um recado para a torcida do Sport. 

“Agradecer à torcida, aos elogios que vêm sendo feitos pelo trabalho, evolução dos goleiros. E posso prometer para a torcida que iremos trabalhar muito para que eles possam evoluir cada vez mais, continuem se destacando. Sabemos que o futebol é coletivo,mas os goleiros têm uma ação individual. Então peço que nos incentivem. E fico satisfeito e agradecido pelos elogios, a gente espera continuar realizando esse trabalho”.

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