Quando Rodrigo Dourado subiu livre na área para escorar de cabeça e depois Thiago Galhardo cobrou pênalti no último domingo, na Fonte Nova, o Bahia somou mais dois gols sofridos e chegou à marca de 48 ao final da 27ª rodada, sendo o time dono da pior defesa da atual edição do Campeonato Brasileiro. Faltando 11 rodadas a cumprir na Série A, evidentemente que esse dado sozinho não é capaz de determinar o Esquadrão como fadado a um rebaixamento para a Série B de 2021. Porém, já é o suficiente para acender o sinal de alerta.
Para entender o cenário e estimar a sua gravidade, o NE45 se debruçou sobre o registro geral da competição, no recorte dos pontos corridos. E a partir do levantamento, a história mostra que para se manter na elite o Bahia precisará estancar a sangria de gols. Ou, do contrário, tentar evitar a queda do modo ainda mais difícil. De uma forma ou de outra, terá que quebrar uma escrita que raramente não se consolida na competição.
Já é a pior defesa do Bahia na Série A
Mas antes de partir para o cenário global, começamos pelo recorte do próprio Bahia na ‘Era dos pontos corridos’. O desempenho do time na atual temporada, com 48 gols até a 27ª rodada, já apresenta a pior média de gols sofridos por partida entre as oito participações do clube sobre o atual modelo de disputa da Série A. Hoje, o Tricolor sofre 1,77 gol por jogo. Ou seja, a cada três jogos são cinco gols sofridos na competição em média.
E no total, mesmo com 11 jogos a cumprir, o time atual já tem o segundo pior desempenho do clube nos pontos corridos, e só não alcançará a marca de 2011, quando sofreu 49 gols, se não tomar um gol sequer até o final da competição – difícil. Nem mesmo em 2014, único ano em que o Bahia foi rebaixado no recorte dos pontos corridos, o desempenho defensivo foi tão alarmante.

A defesa do Bahia nos pontos corridos
2011 – 49 gols
2012 – 41 gols
2013 – 45 gols
2014 – 43 gols
2017 – 48 gols
2018 – 41 gols
2019 – 43 gols
2020 – 48 gols*
* restam 11 jogos a cumprir
Da 27ª, só dois escaparam
Partindo enfim para o cenário global, partindo do princípio de que todos os jogos tenham seguido rigorosamente a ordem cronológica das suas respectivas rodadas, ao todo nas 14 edições anteriores realizadas com pontos corridos, 16 equipes chegaram à 27ª rodada com 48 ou mais gols sofridos. E desses 16 times, apenas dois escaparam do rebaixamento nas suas respectivas edições da Série A. Foram elas o Náutico, em 2007, e o Atlético-MG, em 2010 e nenhum dois dois terminou o campeonato com a pior defesa.
Além disso, os dados também apresentam uma evolução no desempenho defensivo das equipes como um todo ao longo dos anos, com uma queda acentuada superior até a dez gols na variação entre os pontos de máximo (59 gols, América-RN em 2007) e de mínimo (41 gols, Palmeiras em 2014) de gols sofridos ao longo do tempo. Entre 2006 e 2012, apenas um ano contou com um único time com 48 gols sofridos ou mais, tendo em 2008 três equipes atingido essa marca depreciativa. E de 2014 em diante, só o Vitória chegou a sofrer 48 gols, e acabou rebaixado ao final da competição.
Clubes que sofreram 48 gols ou mais até a 27ª rodada
2006
17º Ponte Preta – 50 gols
20º Santa Cruz – 49 gols
2007
16º Náutico – 48 gols
20º América-RN – 59 gols
2008
15º Figueirense – 55 gols
17º Portuguesa – 52 gols
19º Vasco – 53 gols
2009
18º Náutico – 48 gols
19º Sport – 49 gols
2010
18º Atlético-MG – 49 gols
2011
19º Avaí – 57 gols
20º América-MG – 49 gols
2012
19º Figueirense – 48 gols
20º Atlético-GO – 48 gols
2013
20º Náutico – 48 gols
2014
Não houve
(a defesa mais vazada era a do 13º Palmeiras, com 41 gols)
2015
Não houve
(a defesa mais vazada era a do 19º Vasco, com 46 gols)
2016
Não houve
(a defesa mais vazada era a do 19º Santa Cruz, com 44 gols)
2017
Não houve
(a defesa mais vazada era a do 20º Atlético-GO, com 42 gols)
2018
17º Vitória – 48 gols
2019
Não houve
(a defesa mais vazada era a do 19º Chapecoense, com 42 gols)
Os dois caminhos a seguir
Náutico de 2007 – Ter um ataque extremamente poderoso
O primeiro exemplo deixado é o do Náutico de 2007, que naquela ocasião acabara de vencer o clássico pernambucano contra o Sport e somava 33 pontos, sendo 9 vitórias, 6 empates, e 12 derrotas até a 27ª rodada. Cinco pontos e um triunfo a mais que o Bahia soma hoje, porém ambos na 16ª colocação, como primeiros fora do Z4.
Até ali o Timbu acumulava os mesmos 48 gols sofridos, na média de 1,77 por jogo, cinco a cada três jogos. Entretanto, a média de gols marcados também tinha níveis elevados e com 43 marcados, os alvirrubros tinham 1,59 gol por jogo, ou seja, marcavam três gols a cada dois jogos. Mesmo na beira do abismo, já era empatado com Vasco e Flamengo o time com o terceiro melhor ataque da competição, atrás apenas do surreal Cruzeiro (63 gols) e do Botafogo (45).
Daquele clássico em diante, o Náutico somaria outros cinco triunfos, cinco derrotas e um empate, num aproveitamento inferior a 50%. Entretanto, diminuiria relativamente a média de gols sofridos para 1,36 por partida, ou seja, caindo para quatro a cada três jogos, sofrendo apenas 20 gols a mais, numa melhora de rendimento defensivo em 23%. Os alvirrubros terminaram o campeonato na 15ª colocação, com 49 pontos, cinco a mais que o Corinthians, primeiro a abrir o Z4.
No entanto, o principal fator diferencial para a manutenção do Náutico naquela Série A foi elevar a já significativa a média de gols, marcando 23 vezes nos 11 jogos seguintes, ultrapassando a expressiva marca de dois gols por partida (2,09) na reta final, uma melhora de 31% no rendimento ofensivo. Para se ter uma ideia do feito ofensivo do Náutico naquele ano, o São Paulo, que se sagrou pentacampeão do Brasileiro com Muricy Ramalho, terminou a competição com 55 gols. E o Cruzeiro, que manteve o posto de melhor ataque, finalizou o ano com 73 gols marcados, apenas sete a mais que o Timbu.
Atlético-MG de 2010 – Arrancada nos resultados
Chegando em 2010, o Atlético -MG também apresenta um parâmetro importante do quesito de melhora no rendimento defensivo e ofensivo como um conjunto, só que menos intenso que o do Náutico no ataque e mais concentrado nos resultados em si. Diferentemente do Bahia hoje e o Náutico de 2007, até a 27ª rodada o Galo estava mergulhado na zona de rebaixamento, na 18ª colocação, com 25 pontos, sendo 7 vitórias, 4 empates e 16 derrotas, o time estava quatro pontos à frente do lanterna Barueri, e quatro pontos atrás do Avaí, 16º. Até ali, os alvinegros haviam tomado 49 gols, numa média de 1,81 gol sofrido por jogo, e marcado 35 vezes, numa média de 1,22 gol por partida.
Nos 11 jogos em diante foram mais 6 triunfos, dois empates e apenas 3 derrotas, arrancada que fez o time emendar três triunfos seguidos pela primeira primeira vez naquela edição. O Galo garantiu a permanência antes mesmo da última rodada, terminando o campeonato na 13ª colocação com 45 pontos e 13 vitórias, sendo o time que mais venceu entre os dez últimos colocados.
Para isso, foi necessária uma melhoria nos rendimentos ofensivo e defensivo nos 11 jogos restantes. Sofreu 15 gols a mais e diminuiu a média de gols sofridos para 1,36 gol por jogo, ou 4 gols sofridos a cada 3 partidas, num percentual de 24% de melhora defensiva. E no ataque, marcou mais 17 vezes e elevou a média para 1,54 gol por jogo, ou 3 gols marcados a cada 2 partidas, numa melhora ofensiva de 26% no recorte de 11 jogos restantes. Naquele ano, o Goiás acabou tendo a pior defesa, com 68 gols sofridos e… caiu.
Mas e se não melhorar?
Bem, mas o que acontece se o Bahia não conseguir melhorar o seu desempenho ofensiva e defensivamente, e assim terminar a Série A com a pior defesa da edição 2020? Nesses casos, nas 14 edições disputadas na Era dos pontos corridos, as equipes que tomaram mais gols no campeonato inteiro escaparam do rebaixamento em apenas três ocasiões, sendo uma delas com duas equipes.
Em 2014 houve a primeira exceção, com aquele mesmo Palmeiras já listado na lista lá de cima, que na 27ª rodada já figurava como um time que “gostava” de tomar seus golzinhos. Porém, o time paulista terminou o campeonato com 59 gols sofridos, sendo o primeiro fora da zona de rebaixamento, escapando apenas na última rodada, graças a uma derrota do Vitória. Foi no sufoco.
Em 2017, dois times nordestinos tiveram essa experiência, quando Sport e Vitória terminaram a Série A com 58 gols sofridos cada, ambos escapando no sufoco do sufoco, na última rodada. Para se ter uma ideia, o Rubro-Negro pernambucano era o primeiro time dentro do Z4 na 37ª rodada, vencendo o Corinthians em casa, e contando com resultados a seu favor para escapar. Já o Rubro-Negro baiano estava fora da zona da degola e perdeu para o Flamengo na última rodada. O Vitória só não foi rebaixado por conta de uma derrota do Coritiba para a Chapecoense, que selou a queda do Coxa no critério de saldo de gols, um a menos que o Leão.
E mais recentemente, no ano passado, o Goiás também conseguiu esse feito, porém de forma bem mais tranquila. Sem ‘aperreio’, praticamente. O time esmeraldino terminou o campeonato com 64 gols sofridos, a pior marca entre os que não caíram. Mesmo assim, com seus 52 pontos somados, 16 a mais que o Cruzeiro, 17º naquele ano, o Goiás acabou o campeonato na 10ª colocação, melhor posição entre todos os que tiveram a defesa mais vazada até aqui nos pontos corridos. Feito que dificilmente se repetirá na história, com os padrões atuais já registrados.
As piores defesas dos pontos corridos
2006 – 20º Santa Cruz – 76 gols
2007 – 20º América-RN – 80 gols
2008 – 17º Figueirense – 73 gols
2009 – 19º Náutico e 20º Sport – 71 gols
2010 – 19º Goiás – 68 gols
2011 – 20º Avaí – 75 gols
2012 – 20º Figueirense – 72 gols
2013 – 20º Náutico – 79 gols
2014 – 16º Palmeiras – 59 gols
2015 – 17º Avaí – 60 gols
2016 – 19º Santa Cruz – 69 gols
2017 – 15º Sport e 16º Vitória – 58 gols
2018 – 19º Vitória – 63 gols
2019 – 10º Goiás – 64 gols
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