Principal nome na campanha de permanência do Náutico na Série B, o técnico Hélio dos Anjos curte merecidos dias de folga em Santa Catarina, com a família, antes de retornar ao clube para iniciar o planejamento para a temporada 2021. Porém, nesta terça-feira, aceitou interromper rapidamente seus descanso para atender gentilmente à reportagem do NE45.
E na conversa, que durou pouco mais de 20 minutos, o comandante alvirrubro recordou os desafios enfrentados ao assumir o clube, a oito pontos do primeiro time fora da zona de rebaixamento restando 17 partidas por fazer. Mas, obviamente, também indicou seus planos para o futuro no Timbu, como perfil dos novos contratados, metas e a nova composição do departamento de futebol.
Confira a entrevista completa
Com tantos anos de carreira, esse foi o desafio mais difícil que o senhor teve que encarar?
Sim. Em outras situações também enfrentei dificuldades, como foi o caso do Goiás em 2008 (quando tirou o time da zona rebaixamento e por pouco não classificou para a Libertadores). Mas lá tive 32 jogos para fazer. Ou no mesmo Goiás, em 2017, (quando livrou o clube da queda à Série C), mas também em uma situação que tinha mais jogos e mais oportunidades. No Náutico, além do número de partidas ser menor, também havia o aspecto psicológico, de um time que tinha 86% de chance de cair. Foi uma dificuldade muito grande, em cima de muitas dúvidas e inseguranças. Por isso, foi o meu trabalho mais difícil.
Qual o momento de maior dificuldade e qual o momento em que o senhor passou a ter segurança da permanência do time na Série B?
Os momentos de maior dificuldades foram dois. O primeiro logo no meu jogo de estreia contra o CRB (derrota por 2 a 1). Ali fiquei assustado. Não gostei do vestiário, do pós jogo e obviamente não gostei do time dentro de campo. Ali fiz uma uma reflexão, pela experiência que tenho, dos pontos que precisava atacar agressivamente para ter a resposta do grupo. O outro momento que me preocupou foi tudo o que cercou a partida contra o Confiança (derrota por 2 a 0) por não estar presente, nem o meu assistente Guilherme (dos Anjos, ambos com Covid-19). Não tive base da reação verdadeira do time. Tanto que depois, eu já estava no meu nono dia de isolamento, tive uma reunião à distância com todo o grupo no estacionamento da concentração, de forma presencial. Eu bem longe deles. E falei o que tinha que falar. Essas duas foram as situações que mais me preocuparam.

E qual o momento de maior confiança na permanência?
O enfrentamento contra equipes muito mais fortes me deu um alento de que nós iríamos tirar o time daquela situação. Não foi simples encarar Chapecoense, Sampaio Corrêa e Cuiabá em sequência e a reação da equipe nesses jogos foi muito positiva e nos encheu de confiança.
Após um trabalho de bombeiro, o senhor agora vai poder trabalhar todo o planejamento do clube para 2021 do início. Como está sendo o processo de reformulação de elenco? Como o senhor vai participar desse processo? Já há jogadores indicados?
Tanto a saída, quanto a chegada de jogadores ainda não estão totalmente definidas. São apenas três dias pós encerramento da Série B. Porém, o mais importante é o seguinte. Eu estou dando subsídios para as contratações viáveis. Não adianta falar que quero um jogador que subiu e vou dar um exemplo. O Capixaba, atacante do Juventude, é um atleta que gosto muito. Mas como indicar esse jogador se ele foi um dos principais atacantes do acesso do Juventude? É algo que fica inviável. Por isso faço uma relação, busco situações e passo nomes viáveis para a diretoria para que a gente possa conversar. E isso já está acontecendo.
E, além da questão financeira, quais as características do atleta que o senhor procura?
Minha definição por um nome parte da questão técnica, mas sou muito exigente também na parte física do jogador e também no currículo com relação ao aspecto médico, ao histórico de lesões. Todos os jogadores que estão sendo discutidos hoje dentro do Náutico envolvem eu, o Guilherme, o Marcelo, o Dudu Capixaba (assistentes) e agora também o Ari (Barros, novo executivo de futebol), que já estamos conversando. Além, naturalmente, do departamento de futebol, com o Diógenes (vice-presidente) e o Gilberto (Pinheiro, diretor de futebol) e do presidente (Edno Melo). Esse é o nosso grupo de contratações. E quando eu falo de um jogador, já tenho todos os dados desse atleta. Principalmente os dados físicos. Pensando no meio de campo defensivo, por exemplo. Estou procurando um atleta com números semelhantes ao do Rhaldney, que são números muito bons, tanto na parte física, como de volume e intensidade. No ataque já temos leveza com Erick, Vinícius e o próprio Kieza. Vamos tentar colocar em torno desse jogadores também um atleta de força, um jogador de arrasto, para nos dar um leque maior de opções no grupo. Na zaga, temos três zagueiros de bom nível (Camutanga, Ronaldo Alves e Carlão), e que são todos também construtores na saída de bola. E vamos contratar um zagueiro que também tenha essa característica. Que além de ser um bom defensor, também saiba sair jogando. Lógico que estamos sujeitos a errar. Mas queremos amenizar o máximo possível o número de erros.
O senhor falou em atacante de força, e o Náutico possui um jogador com essas características e que fez sucesso no Remo, que foi o Salatiel. Pensa em usá-lo ou não?
O Salatiel se deu muito bem no Remo e até alertei a direção que o Remo vai fazer de tudo para mantê-lo. E se não for o Remo, o Paysandu vai querer contratá-lo porque sei como funciona a rivalidade em Belém. Mas é um atleta que está com a situação para a direção resolver. Se houver alguma transação para fora do Náutico não vou impedir. Mas se for para ele retornar, é a minha obrigação trabalhar com o Salatiel e ele mostrar as reais condições que pode nos ajudar.

Após a Série B, o Náutico trocou o executivo de futebol, com a saída do Fernando Leite e a contratação do Ari Barros. O senhor conhece o novo profissional? Já teve algum trabalho com ele? Qual a sua impressão?
Vou ser bem sincero. Eu imaginava a sequência do trabalho do Fernando. Não tenho nada a reclamar do nosso relacionamento de trabalho. Ele foi um belo parceiro. Mas não tenho que me envolver na permanência de um profissional dessa área ou na contratação de A ou B. Na hierarquia do futebol estou abaixo do executivo. Mas não tenho problema algum com o Ari, um profissional hoje super vitorioso. Que subiu o Juventude da Série C para a B e agora da B para a Série A. E não é simples um profissional sair do Norte e Nordeste para encaixar no futebol do Sul. Além disso, é um profissional que tem identidade com o Náutico (foi zagueiro do clube). Conversei com ele presencialmente em dois encontros, inclusive um em Caxias quando fui jogar lá com o Paysandu. Hoje é um executivo que tem grande peso no mercado e tem um perfil de leveza. O Náutico é um clube leve internamente e não pode ter um profissional que quebre esse lado de humanização muito boa que existe hoje. E o Ari é um profissional com esse perfil também. E conhecedor do mercado. Principalmente agora, onde o garimpo de jogadores será muito importante, há inúmeras situações que acredito que ele vá nos ajudar.
Em 2021, o Náutico está fora da Copa do Nordeste e da Copa do Brasil. Como o senhor avalia essas perdas?
Além do prejuízo financeiro, o Náutico terá também um prejuízo técnico por não estar nessas duas competições. Sou um entusiasta da Copa do Nordeste, um torneio regional de alta competitividade pela quantidade de clássicos que ela proporciona e um nível elevado de jogos logo no início da temporada. Mas vamos aproveitar esse início também para aproveitar jogadores jovens. No meio já temos o Carpina, por exemplo, que na Série B já entrou em dois jogos complicados contra a Ponte Preta e o CSA. Não vejo essa história de fogueira para jogador. Sucesso e oportunidade não avisam quando vai aparecer e quem tem personalidade para encarar esses momentos vai embora. O Carpina aparecendo bem, podemos não trazer outro jogador para o setor, por exemplo. O mesmo acontece na lateral direita. Caso o Hereda permaneça, vou dar uma segurada no setor para observar o Bahia o o Tássio (ambos atletas da base).
Na temporada 2020 o senhor teve como objetivo cumprido o de salvar o clube do rebaixamento à Série C. E para 2021, quais as metas do Náutico?
Muita coisa grande. Não posso assumir o Náutico sem pensar em ganhar sempre. Vamos trabalhar para conquistar inicialmente o Campeonato Pernambucano, um campeonato que tem sim grande importância. Sei disso porque já conquistei esse título três vezes (todas pelo Sport). E esse objetivo já foi falado aos atletas logo após o jogo contra o CSA, no vestiário. Até porque o início do Pernambucano já está em cima e hoje perder o estadual tem consequências piores do que quando o disputei pela última vez. O Náutico precisa ganhar o Estadual para conseguir estar presente na Copa do Nordeste e na Copa do Brasil de 2022.
0 comentários