AnalistasCopa do BrasilJoão de Andrade Neto
É preciso parar o futebol. E o futebol encontrou uma forma de dizer isso
No pior momento da pandemia da Covid-19 no Brasil, com a média móvel de mortes nos últimos sete dias chegando a triste marca de 1.965 em 24 horas, defender a manutenção dos campeonatos de futebol beira o surrealismo. E nesta semana, foi o próprio futebol a mostrar isso, com dois casos exemplares.
O primeiro, com o goleiro Martin Rodriguez e o volante Elicarlos, ambos do Santa Cruz, testando positivo para a doença na segunda-feira, um dia depois de entrarem em campo infectados e atuarem contra o Sport pelo Campeonato Pernambucano, mostrando o quanto é falho o protocolo da Federação Pernambucana. Por conta disso, há um risco de um novo surto nos clubes.
O segundo, a nível nacional, com o adiamento de quatro jogos da Copa do Brasil marcados para o estado de Goiás (após decreto do governo local), sendo três envolvendo clubes nordestinos (Santa Cruz, CRB e Ferroviário). A decisão veio após as delegações já estarem nas cidades das partidas, com Ypiranga-AP e Porto Velho-RO tendo transferido seus mandos justamente porque nos seus respectivos estados o futebol profissional já havia sido suspenso como medida preventiva ao novo coronavírus.
Quando se força ao máximo a barra para que algo aconteça, passando por cima do bom senso e sobretudo da realidade posta, esses tipos de situações acontecem. E vão acontecer até que CBF, federações e clubes entendam o óbvio. Algo que grita a cada novo triste recorde da Covid no País, novo epicentro mundial da doença. É preciso parar o futebol já. E em todo país. Sem paliativos.
Só com a Copa do Brasil são 40 jogos na primeira fase, oitenta times envolvidos, muitos cruzando o País. Como o Fortaleza, que se deslocou para Caxias do Sul. Ou o Cruzeiro, que foi jogar em Roraima. Ou mesmo no casos dos jogos adiados em Goiás, com seis dos oito times envolvidos não sendo do estado. Viagens com deslocamentos aéreos, escalas, transportes terrestres, hotéis….Milhares de pessoas envolvidas, dos quatro cantos do País. Inclusive com times das categorias de base.
Na terça-feira (16), quando o Brasil registrava o recorde de 2.841 mortes em 24 horas, os times sub-20 do Real Ariquemes, de Rondônia e do Náutico se enfrentavam em Belo Horizonte para uma partida da Copa do Brasil Sub-20. Um inexplicável absurdo.
Tudo isso com o vírus em seu maior índice de contágio, novas variantes e UTI’s com mais de 90% de ocupação em 16 estados, sendo três deles (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia) já sem nenhuma vaga. O que amplia o problema, inclusive, para além da Covid-19.
Isso significa dizer que se em alguma dessas partidas da Copa do Brasil, profissional ou Sub-20, um jogador tiver um problema sério, como uma convulsão, por exemplo, pode correr o risco de não encontrar atendimento médico adequado, uma vez que o sistema de saúde do País está em colapso. Fingir que está tudo normal, quando claramente não está, é irresponsável. É brincar com a saúde. Em meio ao maior caos humanitário da nossa história.
Com os estaduais, o risco de contágio é ainda maior. E aqui cai por terra também o argumento de que o futebol é um “ambiente seguro”. Basta ver o exemplo dos dois jogadores do Santa Cruz. Ou do Sergipe, que no primeiro teste feito pela CBF para a Copa do Brasil apontou nove jogadores e o técnico Paulo Foiani contaminados com a doença.
Óbvio que suspender novamente todas as competições do Brasil não é algo agradável. Mas lockdown não é escolha. Porém, nesse momento, é algo fundamental. Essencial. E que assim como nos outros setores da sociedade precisa ser feito com rigor e planejamento. Com a CBF e as federações socorrendo financeiramente os clubes menores, como foi feito em abril de 2020. Quando a média móvel de mortes no Brasil não chegava a 300 em 24 horas.
Estamos há mais de um ano nesse pesadelo. Vivendo em looping. E ainda não aprendemos.
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Cleyton Fernande da silva
18 de março de 2021 a 15:00
João, tem estado que há cerca de 1 mês estava estudando a volta de publico.É Tudo muito surreal.