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Ao NE45, Roberto Fernandes admite arrependimento em ter treinado o Santa e fala sobre bastidores da queda

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Demitido do Santa Cruz após o final da Série C, e com o rebaixamento à Quarta Divisão consumado com duas rodadas de antecedência, o técnico Roberto Fernandes concedeu uma entrevista exclusiva ao NE45. Em uma conversa de pouco mais de meia hora, o treinador foi mais um a expor os inúmeros problemas vividos pelo Tricolor na temporada, com relatos de problemas estruturais, financeiros e até de comportamento de alguns jogadores (sem citar nomes), “chegaram bêbados para trabalhar alguns deles”. 

O treinador, no entanto, eximiu de culpa o presidente Joaquim Bezerra, que segundo ele “é um cara que está dando a vida lá dentro e as coisas não andam”. Roberto Fernandes também falou da própria carreira, disse ter recebido quatro propostas para trabalhar na Série B enquanto estava no Arruda e não escondeu o arrependimento em ter aceito o desafio de tentar evitar a queda coral para a Série D. 

Confira a entrevista completa do agora ex-treinador tricolor

Como recebeu a notícia da sua demissão do Santa Cruz?

Primeiro com a maior naturalidade, porque futebol é qualquer coisa menos respeitoso e reconhecedor dos serviços prestados. A gente está há muito tempo nessa brincadeira e nada me surpreende mais no futebol. Além de que trabalho é uma coisa, resultado é outra. São poucos os clubes que trabalham hoje com planejamento e execução de trabalho. Quem acompanhou o trabalho no dia a dia do Santa Cruz sabe que os resultados não aconteceram por conta de uma caralhada de erros ao longo da temporada. O rebaixamento do Santa Cruz não foi algo isolado do restante da temporada. Pelo contrário, a temporada foi lastimável, sendo lanterna na Copa do Nordeste, não chegando às finais do Pernambucano, caindo na segunda fase da Copa do Brasil. O clube contratou um monte de jogador, um monte de treinador. E quando o presidente (Joaquim Bezerra) veio me falar sobre adequação salarial, para mim não deu porque eu, ao longo desse trabalho no Santa Cruz, recebi três propostas de clubes Série B. E antes do jogo contra o Botafogo-PB (no último sábado, pela última rodada) recebi a quarta sondagem, do Brasil de Pelotas, para um contrato até o final do Gauchão. Mas eu tinha na cabeça de pelo menos fazer essa seletiva (da Copa do Nordeste) para dar uma alegria ao torcedor do Santa Cruz. Então eu neguei também o Brasil. E aí veio (a demissão).

Você sai com tudo pago ou há algum salário em aberto?

O Santa está me devendo dois meses de salários, mas há a promessa de pagar. O presidente me deu a palavra que iria cumprir. Vamos aguardar.

Roberto Fernandes, técnico do Santa Cruz
Roberto Fernandes não escondeu o arrependimento em ter assumido o Santa na Série C (Foto: Rafael Melo/Santa Cruz)

Se arrepende de ter ido para o Santa?

Totalmente. Às vezes o profissional sai de um clube, como estou saindo do Santa Cruz, em baixa. Mas no CRB eu saí em alta, com 65% de aproveitamento e invicto em casa em três competições. O título que eu perdi nos pênaltis (Campeonato Alagoano), o mando era do CSA, não era nem meu. Eu tinha mercado. Tanto que mesmo com a campanha pífia no Santa, clubes da Série B vieram atrás de mim. O primeiro foi o Vila Nova, depois o Londrina e o terceiro foi o Confiança. E agora no final teve essa sondagem do Brasil. Eu me arrependo totalmente de ter assumido o Santa Cruz. Mas não pelo clube, que é um baita clube, uma camisa fortíssima, um clube extremamente tradicional no futebol, que precisa voltar ao mercado de Série B e outras várias coisas. Na hora que o Gallo (Alexandre Gallo, técnico que ficou 14 dias no Santa Cruz) saiu atirando (criticando a estrutura do clube), nem tanto o mar, nem tanto a terra. Nem Gallo estava totalmente certo, mas também não estava totalmente errado. No meu caso, pesou o coração. O fato de eu voltar a trabalhar em Recife, a chance de reerguer um clube como o Santa Cruz, o lado emocional. Se eu fosse racional eu não assumiria nenhum clube da Série C porque era uma questão de dias para receber outras propostas. Eu não me arrependo de ter assumido o Santa Cruz pelo clube que é. Mas me arrependo mil por cento de ter ido para a Série C, com mercado na Série B. Foi um erro de gestão de carreira absurdo.

Para você assumir que se arrepende também imagino que tenha sido o trabalho mais difícil da sua carreira.

Foi difícil porque em raríssimos momentos a coisa fluiu como tem que fluir em futebol. Quatro treinadores e nenhum conseguiu resultados satisfatórios. Os atletas não são mau caráter, não são preguiçosos na sua grande maioria. Mas meia dúzia não tiveram comprometimento com o trabalho, cagaram na cabeça do Santa Cruz, chegaram bêbados para trabalhar alguns deles. Mas foi raridade, foi pouco. Em um elenco de 35 atletas, só três ou quatro que estavam descompromissados e que foram saindo ao longo do processo. Mas o resto não, o resto queria, eles se esforçaram, mas não teve liga. É só olhar os números. Os três piores ataques da competição foram do Oeste, Santa Cruz e Jacuipense. Se você pegar um jogador nosso, paga o ataque inteiro do Oeste e da Jacuipense. Não deu liga. Toda semana era um problema. Eu não acredito nisso, mas para explicar eu resumiria assim, que ‘carrego” do caralho. Eu nunca perdi tanto na minha vida no futebol. Meu aproveitamento como mandante é acima de 60%. No Santa Cruz, em oito jogos, eu ganhei um.

Além dos problemas na montagem do elenco, os problemas estruturais também atrapalharam? 

O Santa Cruz está muito atrasado nisso. Por exemplo, o Santa Cruz não tinha GPS (aparelho utilizado para uma análise em tempo real do desempenho do jogador em campo). O Jacuipense tinha GPS e o Santa Cruz não tinha. O presidente comprou, mas agora no final. Faltando um mês para terminar o trabalho. Falar em CT? O Santa Cruz tem CT? O Santa Cruz tem um campo de treino em Aldeia. Nem o vestiário tem um banco para o cara sentar. O Santa Cruz tem um campo em fase final e um campo para treinar. Mas não tem vestiário, não tem nada. Mas não tenho uma vírgula para falar do presidente Joaquim e da diretoria que estava comigo. Pelo contrário, eles tentaram. E Joaquim eu tenho pena dele porque é um cara que está dando a vida lá dentro e as coisas não andam. É impressionante. E a questão da estrutura, se for comparar a Náutico e a Sport está realmente muito atrás, mas também não é a estrutura que fez essa campanha não. Porque o Altos não tem a estrutura que Santa Cruz tem, que já é precária, e eles terminaram a competição muito melhor. Basta ver quantas vitórias o clube tem na temporada (sete em 39 jogos). Eu já dirigi ao longo da minha carreira vários times tecnicamente muito piores do que o Santa Cruz e não era tão ruim assim em termos de resultados.

Santa Cruz, elenco, Roberto Fernandes
Treinador foi mais um a criticar a atual estrutura do Tricolor (Foto: Rafael Melo/Santa Cruz)

Você acha que depois dessa passagem pelo Santa você desceu de patamar no mercado?

Isso é muito relativo porque eu recebi várias mensagens de pessoas ligadas ao futebol em outros estados dizendo que eu fui homem de ter ficado até o final no Santa. E até um mês atrás eu recebi proposta de clubes da Série B. A questão agora é momento. É muito difícil algum clube contratar agora.

Aceitaria um novo convite para trabalhar ainda nesta temporada ou agora só volta a trabalhar em um clube no ano que vem?

Rapaz, não estou querendo não. Porque esse negócio de ficar pegando trabalho para corrigir o dos outros tem 50% de chance de dar certo e 50% de chance de dar errado. Eu falei no início do ano para o presidente do CRB que em todo time do Nordeste em que peguei o trabalho no início eu levei o time para as finais. Se foi campeão ou não é outra história. Eu sei do meu trabalho, da minha montagem, do meu planejamento de pré-temporada. E quando você pega um trabalho no meio, a chance de dar certo ou errado são iguais. Mas quando dar errado o cara que termina fica marcado. Se eu pegar algum trabalho esse ano ainda, pode ter certeza que o contrato será, no mínimo, até o final do estadual do ano que vem. Agora só para socorrer, de jeito nenhum. Acho que não perdi mercado porque quando um cara chega na situação como a minha, não tem mais que ficar provando a cada competição a competência. As pessoas sabem da minha capacidade e eu também tenho ideia do meu mercado. Depois de um trabalho desse no Santa Cruz seria uma surpresa eu ir para uma Chapecoense, por exemplo. Mas eu ir para um clube onde eu já tenho mercado não diferencia não. A minha pior fase no Santa foi quando tivemos cinco derrotas seguidas. E nesse período o Londrina me fez proposta oficial e ficaram chateados porque não fui. Me perguntaram se eu era louco. Se fosse qualquer outro clube de Série C eu tinha saído, mas eu sou daqui de Pernambuco, e como tem a identificação eu não podia sair. Você não tem ideia de quantas mensagens de amigos meus de 20, de 30 anos, eu recebi agradecendo por eu ter ficado. E isso depois que o time caiu. Amigos, vizinho, primo, tio. Foi uma coisa mais emotiva do que racional. 

Agora, fora do Santa Cruz, qual seria o conselho que você deixaria para a gestão do clube pensando no planejamento de 2022 na Série D?

Primeiro de tudo, o Santa Cruz precisa se unir politicamente. Tem uma frase bíblica que é muito real e que diz que ‘uma casa dividida não se sustentará’. Então eu acho que o Santa Cruz precisa se unir. No atual momento político, as pessoas que estão lá não tem paz para trabalhar. Isso em qualquer área. Vi uma matéria que falava “o vestiário do terror” (publicada pelo GE/PE), mas não é só no vestiário. Em qualquer outra área é preciso ter paz para ter o discernimento e tomar as melhores decisões. E a outra coisa é não se apequenar diante da competição que vai disputar. O Santa Cruz não é um time de Série C, imagine de Série D. Então eu acho que se o clube for trabalhar com o orçamento na ponta do lápis e não tiver injeção de investimento de tricolores ou um outro grande patrocinador você entra em igualdade de condição com seus adversários, mas com uma camisa e uma cobrança infinitamente maior. E isso não é justo. Nesse cenário, o profissional não tem paz. 

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