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Náutico campeão pernambucano 2022 Náutico campeão pernambucano 2022

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Análise do Náutico: Ponto de inflexão alvirrubro

Foto: Tiago Caldas/ CNC

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A renovação do grito de campeão pela torcida do Náutico após as vitórias (uma no tempo normal, outra nos pênaltis) sobre o Retrô pode vir a ser considerado um ponto de inflexão na história do clube quando olhada retroativamente em 10, 20 ou 30 anos. A conquista, a 24ª em âmbito estadual, é de consolidação, diferentemente da de 2018 e de 2021 que marcavam o alívio pela quebra de incômodos tabus.

Quando Edno Melo e Diógenes Braga assumiram o clube em meados de 2017, o hiato de títulos e a ausência de autoestima no torcedor eram gargalos que só poderiam ser sanados juntos. Acessos, vitórias relevantes sobre grandes times do cenário nacional, nada poderia resgatar o orgulho alvirrubro além de taças. O clube precisava de conquistas variadas, em circunstâncias distintas, algo que mostrasse a uma geração de torcedores que é sempre possível acreditar.

Num passado recente, o clube demonstrava força nos jogos em que vencer era importante, mas não obrigatório. As vitórias vinham quando perder era aceitável, jamais quando vencer e só vencer era demandado. Foi assim, por exemplo, no Pernambucano de 2010, quando jogou quatro vezes com o Sport, vencendo duas vezes, empatando uma e perdendo apenas o jogo derradeiro do torneio que deu o título ao rival; ou em 2014, quando na soma de Estadual e Copa do Nordeste Náutico e Sport duelaram seis vezes, com três vitórias para cada lado, sendo que as três vitórias do timbu ocorreram quando havia margem de recuperação em ambos os campeonatos para o lado perdedor e as três vitórias rubro-negras eram jogos de “nocaute”, duas delas nas finais do estadual.

Mas o Náutico deixou de ser o time que ganha quando pode perder e perde quando precisa ganhar. Em 2021, em três clássicos com o rival rubro-negro, perdeu um e empatou dois, mas sagrou-se campeão nas penalidades; em 2022, até o momento que este que vos escreve redige o texto, não venceu clássicos e contra o próprio Retrô perdeu dois em três jogos; acabou por vencer aquele que valia o campeonato, trazendo um bicampeonato que não vinha há 20 anos, o grande objetivo da direção para a temporada.

A autoestima está resgatada, os fantasmas foram todos exorcizados e o Náutico é um clube oxigenado. Quando jogou a final contra o Central em 2018, entrava em campo contra o adversário e contra todos os fracassos que vinham á mente de torcida e direção e contagiavam o elenco. Agora, joga livre de fardos e turbinado por uma confiança recém-construída por uma cultura vencedora em formação. Que precisa ser estimulada. E por isso, este texto, mais de que enaltecer o trabalho feito desde 2017, traz alertas que visam contribuir com as sadias cobranças da torcida para perpetuar o momento e fortalecer a cultura que se reforma com os troféus que são incorporados à galeria em Rosa e Silva.

Desde a conquista do hexacampeonato em 1968, o Náutico se habituou a viver com jejuns de conquistas. Foram 6 anos entre 68 e 74, quando interrompeu o pentacampeonato do Santa Cruz e criou o rótulo “luxuoso” do hexa. Findado o jejum, ninguém imaginaria que o alvirrubro viveria um jejum mais extenso. Mas foram 10 anos até o título de 1984, consolidado pelo bicampeonato em 1985. Depois, outro título em 89, numa década de muito equilíbrio em que Náutico e Sport faturaram três troféus cada, e o Santa Cruz quatro. Equilíbrio tamanho que nem o mais pessimista torcedor sonharia em viver outro lapso de vitórias.

Novamente, o vazio cresceu. Foram 12 anos entre 89 e 2001, quando o esquadrão comandado por Muricy Ramalho conquistou o título do centenário e tornou a levantar a taça em 2002. O novo título em 2004 se assemelhava muito a este de 2022: era um título de afirmação, não de alívio. Naquele momento, nenhum alvirrubro ou mesmo rival poderia imaginar uma nova seca. Mas sabemos que ela veio, novamente maior que a anterior. 14 anos separam 2004 de 2018. Assim como era em 1974, 1989 ou 2004, é difícil imaginar o Náutico longe das taças. Mas seria presunçoso assumir que isso não pode acontecer, e imprudente não se precaver para evitar que os mesmos erros que culminaram nos jejuns anteriores se manifestem.

Em comum com esses períodos indigestos está o ambiente político do clube. Em 2001, um novo grupo de alvirrubros assumia as rédeas do Náutico, capitaneado por André Campos. Junto com André, outros dois presidentes (Sérgio Aquino, em 2002, e Ricardo Valois, em 2004) sagraram-se campeões. As conquistas foram muito relevantes para uma geração de torcedores que só conhecia a derrota, e o Náutico é grato a quem fez parte disso. Mas é preciso entender o ponto de inflexão que ocorreu em 2004 e que volta a ocorrer agora, em 2022.

Quando André Campos assumiu em 2001, o cenário era parecido com o de 2017 na posse de Edno Melo. Ambos os lados podem buscar argumentos para elencar o maior grau de dificuldade em cada momento: em 2001, além do jejum de títulos, o Náutico defendia o hexacampeonato frente à hegemonia de cinco títulos consecutivos do Sport e fazia isso no ano de seu centenário; já em 2017 o jejum era maior e ainda que o Náutico não precisasse defender nenhuma conquista, estava próximo a Série C, realidade que bateu a porta meses depois.

Contudo, indiscutivelmente, ambos eram momentos complicados. A complicação em ambos provocava união de todos os lados da instituição, esforços combinados na coleta de recursos e procura de jogadores e uma determinação da torcida em aceitar limitações: contratações questionáveis, priorizar uma competição em detrimento de outra, folhas de pagamento baixas. Os alvirrubros aceitaram não arremessar pedras pois primeiro era preciso reconstruir a vidraça.

Com o sucesso obtido entre 2001 e 2004 e o que está sendo obtido desde 2018, a chave virou para a torcida sem que virasse para a diretoria. As conquistas trazem ânsias por novos saltos e aspirações maiores que meramente conquistar o campeonato pernambucano, e erros que em anos como 2001 e 2018 poderiam ser tolerados não mais o são. Mas para as diretorias, tanto a dos anos 2000 quanto a da atual gestão, que se enxergam como um grupo sacrificado que assumiu um Náutico abatido, cobranças são mal-vistas, afinal, o que havia antes das conquistas trazidas por estas pessoas? Torcedores passam a ser vistos como “tumultuadores” e isso potencializa uma cisão entre torcida e diretoria que reverbera no vestiário.

Claro, não estou aqui defendendo qualquer tipo de cobrança. Desde a volta do público aos estádios no pós-pandemia, a torcida do Náutico tem tomado atitudes reprováveis, como a invasão ao gramado dos Aflitos após a classificação sobre o Santa Cruz na semi-final do Pernambucano e o recente cerco ao presidente Diógenes Braga nas cadeiras dos Aflitos em sequência a derrota sobre o Retrô nos Aflitos, pelo jogo de ida da final estadual. Essas são atitudes reprováveis e qualquer resultado no campo não baliza tais comportamentos.

Mas há atualmente no seio do grupo gestor alvirrubro uma reticência ao movimento de cobrança em redes sociais (natural no futebol contemporâneo) tal como havia nos anos 2000 quando os sites não oficiais do clube ditavam o trâmite de informações do clube e formavam a opinião da torcida. É preciso reconhecer o peso do grupo de Edno-Diógenes e buscar contribuir com seu sucesso, mas o grupo precisa entender também que, por terem alcançado o que alcançaram até aqui, as cobranças crescerão. Foi justamente o raciocínio de “estamos vencendo enquanto outros não venciam, logo não podemos ser cobrados” que dinamitou os jejuns de títulos aqui discutidos.

É fundamental para o futuro de curto e longo prazo do Náutico entender o momento construído com esta nova conquista. No micro e no macro gerenciamento, a condução do futebol precisa ser diferente, ainda que sem dúvidas existam mais acertos de que erros desde 2017. É por ser neste ponto de inflexão que tradicionalmente ocorrem erros que passam a ser ignorados ou sequer percebidos que escrevo este texto. Uma nova chance de ambicionar e sobretudo alçar voos mais altos foi conquistada pelo Náutico, com muito mérito de quem conduz o clube. É o momento de colocar conquistas inéditas e necessárias, como a Copa do Nordeste, no topo da lista de objetivos do clube, de estabelecer a volta à Série A como algo a ser tratado com o cuidado que faltou em 2021, quando o acesso foi desenhado e toscamente perdido. É preciso viver o novo momento e entender que as cobranças são baseadas nele e nas perspectivas futuras, não no momento de 2018 e nas baixas perspectivas que lá haviam.

Definir metas é o primeiro passo, realizá-las um esforço de cada dia. No de hoje, resta comemorar a conquista recente e sonhar com as próximas.

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