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Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, concede entrevista coletiva Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, concede entrevista coletiva

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Presidente do Bahia critica “sistema de ódio’ e pede resistência à “cultura da agressividade” da torcida

Reprodução/TV Bahêa

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O Bahia realizou, nesta segunda-feira, uma entrevista coletiva com o goleiro Danilo Fernandes. Ao fim da fala do arqueiro, principal vítima do atentado contra o ônibus do clube, na última quinta-feira, foi a vez do presidente do Bahia, Guilherme Bellintani falar sobre o ocorrido – em um pronunciamento direto, sem perguntas dos jornalistas, ao contrário do que já havia acontecido pouco depois das cenas de violência.

Se posicionando em tom crítico, Bellintani condenou o que chamou de “sistema de ódio instituído na sociedade brasileira”, falando, não apenas do atentado, que qualificou como tentativa de homicídio, mas lembrando do ataque racista contra o lateral esquerdo Luiz Henrique, há duas semanas, e de ataques xenofóbicos contra o português Bruno Lopes, que comandou o time de aspirantes do Bahia em 2021 e, hoje, é auxiliar do time principal.

Na análise de Guilherme Bellintani, isso é retrato de um comportamento que vem crescendo na sociedade brasileira, para além do âmbito do futebol, com uma maior permissividade ao ódio.

“Que a gente não se acostume com isso, não ache isso normal. Não só a agressão física, mas o sistema que está instituído hoje na sociedade brasileira, que cada um pode dizer o que quer dizer, como quer dizer, e isso é encarado como liberdade de expressão e não como crime, como deveria. Para que haja uma convivência em coletividade, os limites de um são muito claros a partir do momento que passam a ofender e a ferir o outro, não só fisicamente”, afirmou o presidente do Bahia.

O papel da diretoria e da torcida do Bahia

Lamentando o atentado de quinta-feira, Guilherme Bellintani pediu desculpas aos jogadores e funcionários em nome do clube, da diretoria e da torcida do Bahia. Ele reforçou o papel da gestão tricolor em evitar que isso aconteça. “Nós devemos desculpas porque somos responsáveis pelo transporte e pela segurança dos nossos funcionários a cada momento”.

Nesse contexto, ele ainda reafirmou que essa postura, assim como outros tipos de agressão não fazem e não podem fazer parte da postura da torcida do Esquadrão. Assim, ele afirmou que a gestão do clube vai trabalhar para reforçar a segurança de seus funcionários e mostrar que, mesmo vivendo um momento adverso dentro das quatro linhas, a torcida pode ser uma força de resistência contra atos de violência.

“O clube vai trabalhar ainda mais para proteger os seus atletas, seus funcionários, e fazer com que a torcida, mesmo sofrida neste momento do futebol, mostre que aqui é diferente, que esses bandidos não vão ser a cara do clube, da nossa torcida. E que a gente, mesmo nos momentos ruins dentro de campo, é capaz de dar um basta naqueles que tentam trazer para fora de campo um ato de violência, uma cultura de agressividade que é intolerável e, cada vez mais, a gente deve combater. Então, a minha mensagem é de que o ódio não vai vencer e nós vamos fazer de tudo para que ele não vença”.

Leia a íntegra do pronunciamento de Guilherme Bellintani, presidente do Bahia

“Primeiro, Danilo, em nome não só do clube, nem da presidência, mas da torcida – e eu peço licença à torcida para falar em nome dela – para pedir desculpas pelo que aconteceu. Não só ao Danilo, mas a todos os funcionários envolvidos. Não tinha só atleta no ônibus, mas todo o nosso estafe, que acompanha nosso elenco para um dia de jogo. Então, nós devemos desculpas porque somos responsáveis pelo transporte e pela segurança dos nossos funcionários a cada momento.

Dizer algo muito óbvio que já pôde ser visto. O que aconteceu ali não representa o sentimento da torcida, apesar de invariavelmente sermos obrigados a enfrentar um sistema que se estabeleceu no futebol brasileiro, mas, também, na sociedade brasileira como um todo de que o ódio se tornou regra e a permissividade do ódio tem se tornado cada vez maior. Não só no futebol.

Que a gente não se acostume com isso, não ache isso normal. Não só a agressão física, mas o sistema que está instituído hoje na sociedade brasileira, que cada um pode dizer o que quer dizer, como quer dizer, e isso é encarado como liberdade de expressão e não como crime, como deveria. Para que haja uma convivência em coletividade, os limites de um são muito claros a partir do momento que passam a ofender e a ferir o outro, não só fisicamente.

Eu vou citar aqui, além desse caso do ônibus, dois outros casos. Um deles se tornou público, foi a agressão ao nosso atleta Luiz Henrique, que não deve ser esquecido. Foi uma agressão verbal, mas dói na alma tanto quanto a dor na ferida no pescoço do Danilo. a agressão verbal ao Luiz Henrique também fere.

E, só para ilustrar aqui, outro caso, foi com nosso treinador Bruno Lopes, português. Irmão de nação. Por mais que a gente compreenda a visão crítica da formação histórica do Brasil, da sua relação com Portugal, hoje são nações irmãs. E Bruno, por mais de uma vez, treinando o time na beira do campo foi chamado de “português de merda”, “você veio de caravela para aqui, volte de caravela para lá”. Uma atitude xenofóbica extremamente agressiva que pouco ou quase nada foi divulgada, e que, novamente, não representa a torcida do Bahia, eu tenho certeza que não representa o Bahia.

Mas precisa ser dito para que gente não torne essas circunstâncias normais. A xenofobia, o racismo, a agressão física, a tentativa de homicídio, como foi o caso das bombas no nosso ônibus.

Então, Danilo, eu queria aqui reforçar que o clube vai trabalhar ainda mais para proteger os seus atletas, seus funcionários, e fazer com que a torcida, mesmo sofrida neste momento do futebol, mostre que aqui é diferente, que esses bandidos não vão ser a cara do clube, da nossa torcida. E que a gente, mesmo nos momentos ruins dentro de campo, é capaz de dar um basta naqueles que tentam trazer para fora de campo um ato de violência, uma cultura de agressividade que é intolerável e, cada vez mais, a gente deve combater.

Então, a minha mensagem é de que o ódio não vai vencer e nós vamos fazer de tudo para que ele não vença. Obrigado, mais uma vez, pela confiança, não só a Danilo, mas a todos os atletas do clube, funcionários, à torcida que apoiou e foi solidária a todos os nossos atletas e ao Brasil inteiro, não só à torcida do Bahia, mas de todos os clubes, torcedores do futebol brasileiro. A todos os meus colegas presidentes que me ligaram, mandaram mensagens de solidariedade, porque todos esses clubes também sofrem com essa minoria de bandidos.

Mas vamos juntos enfrentar, porque a sociedade brasileira, ao mesmo tempo que está fragilizada no combate à violência, é madura o suficiente para saber virar essa página e saber enfrentar de forma madura, convincente e forte essa mazela social”.

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