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“Meu título foi dar uma casa para minha mãe”: a história de Anderson Lopes, cria do Coque, ‘irmão’ de Walter e ídolo no Japão

Foto: Divulgação/Instagram de Anderson Lopes

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Pernambucano tem carreira consolidada no futebol asiático, fez gol no Manchester City em agosto e sonha com chance no Sport no futuro

“Sou um menino sonhador”. A frase, tatuada nas costas de Anderson Lopes, sintetiza bem a vida do atacante. Da infância pobre na comunidade do Coque, na Ilha de Joana Bezerra, no bairro do Recife, ao brilho – e idolatria – no Japão, do outro lado do mundo. Um filme com vários capítulos na mente do atleta, que carrega uma certeza.

“Sempre falo que meu título foi dar uma casa própria para minha mãe”, diz Anderson Lopes, após uma hora de conversa com a reportagem do NE45.

O garoto, que cresceu na comunidade do Coque e carrega o amor pelo Sport desde o berço, hoje brilha no futebol japonês. Em 36 jogos pelo Yokohama Marinos, em 2023, são 21 gols e quatro assistências. Incluindo um tento em cima do Manchester City, de Pep Guardiola, e com direito a comemoração à lá Haaland.

Anderson Lopes, contudo, não esquece quem lhe ajudou. Aliás, aponta um dos “culpados” pelo sucesso: o atacante Walter, que também é cria do Coque e atuou por vários clubes do Brasil, vide Goiás, Fluminense e Santa Cruz.

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Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal de Anderson Lopes

“Walter foi meu pai no futebol, o pai que não tive na infância e adolescência”

Anderson Lopes e Walter moravam muito próximos. Poucos metros separavam a casa de número 17 na Rua Vista alegre, residência até hoje da avó de Anderson, da casa que Walter residia. Apesar da diferença de idade de quatro anos, eles eram carne e unha. Andavam juntos.

Juntos vivam em peladas nas ruas do Coque e no campo de barro da comunidade. Mas também conviveram com diversas cenas de violência no local. Cenas, diga-se, que ocasionaram em perdas de amigos próximos da dupla.

A parceria não ficava restrita à bola. Pelo contrário. Anderson é enfático ao dizer: Walter atuava como um pai, apesar da pouca de diferença de idade.

“Costumo dizer que o Walter foi meu pai no futebol, o pai que eu não tive na minha infância e adolescência. Aquele cara que eu escutava, que me ensinava as coisas, que tentou me botar no eixo. Tive mais conselhos do Walter na infância e adolescência do que do meu próprio pai”, relembra Anderson.

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Foto: Anderson Lopes ao lado de amigos na comunidade do Coque, durante a sua infância. Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Walter foi o primeiro ‘cria do Coque’ a dar certo no futebol. Saiu da comunidade, foi para o São José-RS, depois Internacional, seleção brasileira de base… E mudando de vida. Mas sem esquecer de onde saiu. E de Anderson. “Vou levar esse menino para lá (Porto Alegre)”, dizia.

Enquanto isso, na escolinha do Sport, Anderson dava os primeiros passos rumo ao sonho de virar profissional. Como a família não tinha condições financeiras para arcar com os custos, a responsável pelo pagamento mensal era Roseana, patroa de dona Sônia Maria Lopes, a mãe de Anderson.

O garoto fazia a sua parte e sonhava com a oportunidade. Até que veio quando ele tinha 14 anos. Anderson se destacou em um campeonato de várzea e despertou o interesse de um olheiro. Apesar da pouca idade, era cobiçado por vários clubes – incluindo o próprio Sport. O garoto e seus familiares, contudo, resolveram seguir o conselho de Walter.

“Primeiramente, Deus e, segundo, Walter. Ele acreditou em mim, falou que ia me tirar do Coque e me levou para Porto Alegre para mudar minha vida. E eu tinha uma proposta do Cruzeiro e o Sport querendo assinar contrato, mas segurei e decidi ir com o Walter para o São José, onde ganhei experiência e depois cheguei no Internacional mais maduro”, explica Anderson.

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Anderson Lopes e Walter em uma pelada no campo do Coque. Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Anderson Lopes passou poucos dias no São José. Mas por um bom motivo. Destaque da equipe, chamou a atenção do Internacional, que tinha escutado indicações de Walter. Ao se transferir para o Colorado, diga-se, ficou por três meses na casa do amigo.

Os planos no Inter, porém, não saíram como se esperava. Tanto que Anderson sequer atuou no profissional, sendo dispensado posteriormente – no mesmo ano foi emprestado ao Avaí, onde pouco atuou. Em paralelo, viu o amigo Walter se transferir para o Porto, de Portugal, e o contato se perder.

Em 2014, com Walter sendo destaque no Brasil e se transferindo para o Fluminense, o contato entre os dois voltou a acontecer. E foi fundamental na carreira de Anderson, que se destacou no Marcílio Dias e retornou ao Avaí – agora, contudo, de maneira definitiva.

Após duas temporadas no Avaí, com 80 jogos e 19 gols marcados, despertou o Interesse do Athletico Paranaense. E quem estava no Furacão? Walter. Se não realizaram o sonho de atuar juntos no Sport, agora era a oportunidade.

“E realizei um sonho de jogar com ele em 2016, no Athletico. Ele me ligou e disse que jogaríamos juntos e que a favela tinha vencido. Compartilhamos vestiários juntos, conversamos no dia a dia e relembramos os momentos bons. Infelizmente não tivemos tantas oportunidades juntos, mas o pouco que jogamos dentro de campo tentamos nos ajudar”, relembra Anderson.

No Furacão, por sua vez, atuou em 19 jogos e marcou dois gols. Tempo suficiente para conquistar o Campeonato Paranaense – ao lado do amigo. A passagem durou pouco, mas novamente por um bom motivo. Era hora de sair do país. E construir carreira no Japão.

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Anderson e Walter com a taça de campeão paranaense de 2016. Foto: Arquivo Pessoal de Anderson

Do Coque para a idolatria no Japão, com direito a duelo contra Haaland, do Manchester City

Anderson deixou o futebol brasileiro por uma proposta do Sanfrecce Hiroshima, do Japão. Era a hora de partir para o outro lado do mundo. Na primeira temporada, em nove jogos, três gols. Na segunda, em 2017, mais dez tentos em 39 confrontos. O bom desempenho despertou o interesse do mercado.

Apesar de estabilizado no Japão, Anderson Lopes aceitou jogar no Seoul, da Coreia do Sul, que ofereceu uma proposta financeira mais vantajosa. Admite que acreditava ser “tudo a mesma coisa”. Mas se enganou. E as dificuldades da rotina se agravaram, apesar do bom salário. Faltava o apoio, sobretudo sem tradutores para ajudar em problemas básicos.

Anderson, diga-se, viveu na Coreia do Sul um dos episódios mais tristes de sua carreira, segundo diz o atacante. Precisou ir ao hospital ficar com Pedro, filho mais novo e que estava doente, e avisou que não poderia jogar no sábado caso não tivesse ninguém para cuidar da criança. O técnico, que ele diz nem saber o nome e não guardar boas lembranças, ficou furioso e multou o pernambucano. Além de afastá-lo.

“Aí o treinador entendeu que eu não queria jogar no sábado. Mas eu disse que só iria ficar se não tivesse ninguém. Resumindo: não joguei mais com ele, me multou em 30 mil dólares e me afastou do time. Aí falou que eu não ia jogar mais. Acabou o contrato, voltei pro Brasil e disse que nunca mais jogaria na Coreia. Peguei birra”, relembra.

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Anderson em atuação pelo Seoul em 2018. Foto: Divulgação/Instagram de Anderson Lopes

Depois do fim do contrato com o Seoul, Anderson recebeu uma proposta do Consadole Sapporo, do Japão, e não pensou duas vezes ao aceitar. Obteve bons números na equipe e, após três temporadas, se transferiu para o Wuhan, da China, onde atuou por um ano.

Em 2022, contudo, retornou ao Japão e fechou com o Yokohama Marinos, onde está até hoje, e vive um bom momento. É um dos principais da equipe que, de acordo com Anderson, tem a obrigação de brigar pelos títulos no país e também na Asian Champions League.

‘Estou feliz e realizado. No Japão eu conquistei tudo. Um país que sou extremamente grato, me adaptei de forma rápida e vivo tranquilamente. No Japão é diferente, é um conjunto. É uma tranquilidade para família, para você, uma estabilidade financeira, onde não se preocupa com bônus e salário. Aqui é totalmente diferente do futebol brasileiro”, explica Anderson, que divide vestiário com outros três brasileiros: Yan Matheus (ex-Sport), Elber (ex-Bahia e Sport) e Eduardo.

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Anderson com comemoração à lá Haaland. Foto: Divulgação/Instagram de Anderson Lopes

E foi justamente no Yokohama Marinos, em agosto de 2023, que Anderson Lopes viveu um dos momentos mais marcantes da sua carreira. Um amistoso de pré-temporada contra o Manchester City, de Pep Guardiola e que havia conquistado a tríplice coroa. Os japoneses saíram na frente, com direito a gol de Anderson, que brinca: “Os caras apelam”.

A “apelação” do Manchester City, de acordo com o pernambucano, é porque os ingleses, que saíram perdendo por 2 x 0, terminaram ganhando por 5 x 3. Anderson fez o primeiro gol da partida, com direito a uma comemoração à lá Haaland, principal atacante dos Cityzens e que fez dois nessa partida.

“O Guardiola chegou para mim e foi falar em português comigo e Eduardo, dizendo que a gente deu trabalho. Falei com o Ederson também, um cara sensacional. Falei com o Haaland, pedi a camisa dele, mas ele pediu desculpas e disse que tinha prometido para outra pessoa. Ele também brincou comigo na hora do gol, falando que tinha feito a comemoração. Aí desejou boa sorte”, relembra.

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Anderson em encontro com Haaland. Foto: Divulgação/Instagram de Anderson Lopes

O sonho de Anderson Lopes em jogar no Sport e o grande título da carreira

Ganhando um bom salário e estabilizado no Japão, onde é ídolo e conquistou muito, Anderson Lopes admite que não pensa muito em voltar para o Brasil – ainda tem mais um ano de contrato com o Yokohama Marinos. Apesar disso, porém, nunca escondeu um sonho: o de jogar no Sport, o clube de coração.

O sonho quase virou realidade no início de 2018, quando os empresários de Anderson chegaram a conversar com o Sport, mas a proposta não veio. Aos 30 anos, contudo, o jogador se mostra confiante em realizar esse sonho. Que carrega laços do seu finado avô, José Edson, ou Edinho, com quem ia para a Ilha do Retiro enquanto criança.

“Meu finado avô me levava para a Ilha do Retiro e falava: ‘Um dia você vai estar ali dentro de campo e todo mundo vai gritar um gol seu’. Então, é um sonho de criança que eu creio que um dia vou realizar. Sou torcedor do Sport, sempre acompanho. É difícil assistir aos jogos, mas a gente está sempre acompanhando. Já disse ao Eduardo, que jogou no Athletico comigo: ‘Vamos subir o Leão, hein'”, diz Anderson.

A relação com o finado avô era de muita proximidade. Ir para a Ilha do Retiro? Só se for acompanhado de José Edson. Essa realidade, contudo, mudou quando Anderson tinha 15 anos. Edinho foi morto a tiros e não teve a oportunidade de ver o neto brilhar no futebol profissional.

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Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal de Anderson Lopes

Aos 30 anos, Anderson, que já conquistou quatro títulos como profissional, se diz realizado com a carreira até aqui. Reconhece que as taças e o dinheiro que o futebol proporcionou até aqui foram importantes, mas não titubeia ao falar da maior conquista em vida.

“Sempre falo que meu título foi dar uma casa própria para minha mãe. Quando eu saí, disse que só voltaria em época de festas, mas que daria a casa própria para ela. Esse foi meu maior prêmio: tirar o aluguel da minha mãe”, diz Anderson.

O atacante cumpriu a promessa de garoto e comprou não só uma, mas duas casas para Dona Sônia, a sua mãe: uma em Boa Viagem e outra no Coque, pertinho da avó – justamente a residência que fica perto de onde Walter morava.

Dona Sônia, a mãe de Anderson, não quis sair do Coque, comunidade em que a família do jogador vive até hoje. Quis ficar perto da avó do pernambucano, que está com 90 anos e precisa dos cuidados.

Em 20 anos de carreira, Anderson segue com fome de títulos e quer fazer mais pelo Yokohama Marinos, onde já foi campeão. Apesar da infância com dificuldades, tudo valeu a pena, conta o jogador.

“Minha família mora toda lá no Coque. Minha mãe não quis sair de lá de jeito nenhum. Tive uma infância complicada, mas não cheguei a passar fome. Minha mãe sempre se dedicou para dar tudo do melhor para mim e para minha irmã. Tive uma infância feliz. Com dificuldades, mas feliz”, explica.

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Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal de Anderson Lopes
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