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Cascio Cardoso

É a vida em 90 minutos

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Um atributo do Bahia sob o comando de Mano Menezes, que me parece muito evidente hoje, é a maturidade. Claro que, em casos de insucesso, essa expressão poderia ser substituída por adjetivos como “falta de raça”, “má-vontade”, “displicência” no seio da turma feroz de arquibancada das redes sociais. Porém, diante de 4 triunfos seguidos embebidos de pragmatismo (e isso não é uma crítica), os termos de cólera ficam, ainda bem, esquecidos. Na 21ª rodada, contra o Coritiba isso ficou claro mais uma vez. O Bahia se comportou como quem sabe que um jogo de 90 minutos é feito de janelas de oportunidade, de oscilações. Tom Assmar, do Futebol S/A, diz: “Um jogo de futebol é nossa vida em 90 minutos.” E na vida a gente vive altos e baixos. O início do jogo, baixo, desencaixado, permitiu ao Coxa abrir o placar com facilidade e perder outra grande chance em 8 minutos. Depois, com Nino Paraíba orientado a guardar posição, em vez de atacar portadores da bola ou atletas fora de sua zona, o Bahia foi mais para o jogo, parecia se aproximar do empate, mas errava na pontaria, em especial com Fessin. Aí, veio o lance que, na metáfora da vida, seria o mesmo que nascer de novo: O Coritiba teve o seu segundo gol (bem) anulado após consulta do árbitro ao VAR. O que parecia uma ducha de água gelada para os comandados de Mano Menezes e o provável fim da reação, virou a alegria do renascimento. E ela foi aproveitada com sabedoria. Enquanto a dormência atacava os atletas do time mandante, Matheus Bahia e Élber construíram, com sagacidade, acelerando o jogo, em movimentos agudos, do passe à finalização, o empate do Bahia. Gol que fez o tricolor sair de um 0x2 para o 1×1 em três minutos, sabendo que o Coritiba precisaria desesperadamente partir pra cima. O Bahia renascia e em berço de ouro. Ainda no primeiro tempo quase virou o jogo, mas essa glória viria apenas na segunda etapa.

Gerindo melhor sua fase defensiva (apesar de duas boas chances do Coxa, com Neílton de fora da área pra defesa de Douglas e Róbson perdendo gol embaixo da trave após escanteio) o Bahia controlou mais a partida no tempo final. A entrada de Juninho no lugar de Anderson Martins contribuiu bem. O time administrou não só o 1×1, mas a agonia do adversário que, mesmo muito desfalcado, precisava buscar os três pontos. Talvez, sem a felicidade do chute de Zeca, aos 26, que sacramentou a virada do Bahia, os adjetivos ruins citados acima pipocariam na timeline, mas a verdade é que o Bahia agiu na segunda etapa como se soubesse que iria construir o resultado positivo sem precisar de desespero, agonia, precipitação. Foi paciente, às vezes lento, mas sempre pareceu um time inteligente coletivamente. Tanto que, após o seu segundo gol, pouco sofreu na defesa. O resultado quebrou um tabu de 35 anos, quando, curiosamente, o Bahia também virou o jogo no Couto Pereira, em 1985. De lá até 2020, foram só empates ou derrotas contra o adversário paranaense na série A. Resultado também igualou a sequência de 3 vitórias seguidas do Bahia em pontos corridos, tal qual o melhor momento de 2019. E colocou o time na mesma distância entre o G6 e o Z4. 6 pontos.

Evidente que mudar a prosa de luta contra o rebaixamento é precipitado. A série A é a vida em 38 rodadas. E existem os altos e baixos. O importante é o Bahia não perder de vista essa lógica e manter a lucidez dos melhores ao mais difíceis momentos, como durante o jogo diante do Atlético-MG, por exemplo. Ali, ao escapar da goleada provável, o Bahia foi pra uma virada inesperada, fruto de uma leitura importante dos 30 minutos finais da partida. E assim que deve ser. Entender seus limites, dar um passo de cada vez, ler jogos e adversários sem “emoção”, aproveitar as oportunidades que a vida dá (inclusive em tabela e jogos) é algo que só se consegue com maturidade. E de tudo que o Bahia buscou ter com Mano Menezes ao contratá-lo (agora com 15 jogos, 7 vitórias, 1 empate, 7 derrotas) esse é o item do pacote que ele está entregando com mais destaque. Inclusive, no que diz respeito ao seu cargo. O equilíbrio que demonstrou na maioria (ah, Maracanã…) das vezes que as coisas deram errado no início do seu trabalho é a confirmação de que essa característica que vemos no time é própria do seu treinador.

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