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Em entrevista exclusiva, Dado fala dos desafios no Bahia, Ramirez e Elias

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Pernambucano da cidade sertaneja de Arcoverde, Luís Eduardo Barros Cavalcanti, tem aos 39 anos, a sua maior oportunidade na carreira ao assumir o Bahia na reta final do Campeonato Brasileiro. Carreira essa que, apesar da pouca idade, já é bem extensa, iniciada em 2006 no desconhecido Ulbra-RO e que já passou por outros clubes de massa como Santa Cruz, Náutico, Ceará e Paysandu. 

LEIA: Ao NE45, Dado Cavalcanti revela que não conta com Elias no Bahia

No final do ano passado, Dado Cavalcanti foi contratado pelo Bahia para um projeto diferente. Ser o responsável pela equipe sub-23 que disputaria o Campeonato Baiano e que acabou se classificando para a final, com o time principal confirmando o título. Com a pandemia e o fim do time de transição, Dado deixou o clube e foi para a Ferroviária-SP. Mas por pouco tempo. Com a demissão de Mano Menezes, a diretoria tricolor apostou em uma solução “caseira” para tentar evitar o rebaixamento à Série B. 

E nesse entrevista exclusiva ao NE45, Dado fala de como está encarando o maior desafio da carreira, e o que pretende fazer para que o time consiga uma reação, como a melhora da defesa e a preparação para a estreia domingo, contra o Internacional. Mas ao assumir em um momento tão conturbado, falou também de problemas extracampo, como a denúncia de racismo contra o atacante Ramirez. E anunciou a saída do volante Elias. “Não vou colocar ele para jogar”.

Confira a entrevista, na íntegra:

Você assume o Bahia em um momento de enorme turbulência dentro e fora de campo e com a missão de evitar o rebaixamento à Série B. Essa é a sua maior oportunidade na carreira e ao mesmo tempo o maior desafio?

É exatamente isso. A sua pergunta é na verdade uma afirmação. Já tive a oportunidade de trabalhar em outras equipes de massa, cada um no seu momento e com a sua importância. Já tive a oportunidade de trabalhar em uma Série A, mas em uma realidade completamente diferente, quando assumi o Paraná (em 2018) que não estava matematicamente rebaixado, mas já estava tecnicamente rebaixado. Dessa vez não. Estou assumindo um clube de Série A, com a realidade um pouco conturbada e que briga para não cair. Essa é a nossa realidade e temos que reconhecer isso. E que passa por um momento de problemas fora de campo e isso tudo influencia e implica diretamente no rendimento dos atletas. Estou ciente das dificuldades, da pressão e da responsabilidade. Mas isso é equiparado ao tamanho da oportunidade. Estou encarando como sempre com muita seriedade, analisando as escolhas, as estratégias, a minha condição de grupo, para extrair ao máximo desse elenco.

Você assume o time no meio da polêmica referente à acusação feita pelo volante Gérson ao meia Ramirez por racismo. Você chegou a conversar com o Ramirez depois do ocorrido? E como esse assunto está sendo recebido dentro do elenco? 

Minha apresentação formal foi hoje (quarta-feira), mas desde segunda estou buscando todas as informações possíveis, revendo os jogos, junto com a comissão técnica.  Eu tive um contato muito rápido com o Ramirez  e depois vamos conversar com mais calma porque está sendo tudo ao mesmo tempo. Tenho que treinar a equipe, conversar com os atletas, preciso pensar no jogo de domingo. Mas o Bahia está tomando todas as medidas possíveis nesse caso de forma correta. Acredito que tudo será resolvido da melhor forma possível. De forma alguma  estou minimizando a gravidade da acusação, mas tem que ser analisado tudo. Como as coisas aconteceram, como isso surgiu. Eu não estava lá, não presenciei o fato. Mas o mais importante é que o Bahia está se engajando em dar explicações a todo mundo. Ao próprio Gérson, ao Ramirez e a sociedade, porque o Bahia é um clube muito ativo em defender causas sociais. Quem sabe nos próximos dias a gente possa ter uma definição de tudo o que aconteceu e dos desdobramentos. Até para a gente virar a página e não ficar mastigando muito essa condição. 

Mas dentro de campo o Ramirez é um jogador que você conta?

Sim

Dado teve uma rápida conversa com o atacante Ramirez (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia)

E quanto ao grupo? Esse assunto está incomodando ou o elenco está conseguindo separar as coisas?

É inegável que incomoda porque os caras saíram do jogo, da forma como aconteceu, e depois vem a repercussão nacional e uma repercussão muito agressiva de tudo o que está acontecendo. Mas na reunião que houve hoje, o presidente (Guilherme Bellintani) foi muito taxativo em até amanhã resolver todas as condições e dar um basta de vez em tudo isso para que a gente vire a chave e passe a pensar apenas no nosso momento técnico e nos nossos próximos adversários.

Voltando ao campo. O elenco tem um considerado muito bom, de potencial técnico alto, mas que não se reflete em campo já há algum tempo. O que você pretende fazer para extrair, finalmente, o potencial que se enxerga nesse elenco?

Na conversa nossa hoje com os atletas eu deixei claro que nós temos dois compromissos. O primeiro era meu de buscar estratégias diferentes das que estavam sendo praticadas. Não é apenas a mudança de um treinador para outro que vai fazer as coisas caírem do céu e vai começar a dar tudo certo. Isso não existe. Na minha ótica, o mais importante é que haja uma modificação de alguns comportamentos, de alguns costumes, de algumas estratégias e é isso que estou me apegando no que diz respeito ao meu trabalho. E o segundo compromisso é que precisamos fazer mais. Porque o que eles fizeram até agora não foi suficiente. A minha aposta é nisso, de extrair mais deles e deu eu também criar alternativas diferentes das que vinham sendo apresentadas para buscar resultados também diferentes.

Você trabalhou no Bahia na equipe de transição e com alguns jogadores que estão hoje no elenco principal, como o Fessin e o Saldanha. Isso significa que esses atletas vão ganhar mais chances no time principal ou não tem nada disso?

Não tem. Isso é relativo. Trabalhei também com o Lucas Fonseca no Mogi Mirim, com o Rossi na Ponte Preta, com o Gilberto no Santa Cruz. Curiosamente esse é um dos elencos que eu tive o prazer de me apresentar e que já tinha trabalhado com a maioria dos atletas e isso não é muito comum. Se levarmos em consideração esse argumento eu vou ter a prioridade de citar esses outros atletas com quem já trabalhei. É óbvio que o fato de já termos trabalhado juntos facilita porque eles já conhecem a minha forma de comandar, de gerir trabalho e isso traz pra mim também uma adaptação mais fácil nessa chegada ao grupo. Mas a verdade é que, independente da idade, se é experiente ou jovem, se já teve a oportunidade de trabalhar comigo ou não, vai jogar aquele que eu ache que esteja mais pronto para o momento.

Treinador estreia no comando do Bahia domingo, contra o Inter (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia)

E nessa luta contra o rebaixamento, você acredita que até onde vai a briga? E com quantos pontos será possível livrar esse risco?

 Internamente tem (esse estudo). Eu e a comissão técnica. Externamente não. Eu não passo nada para os atletas com relação a isso porque não quero que eles se prendam a conta, a matemática. Vamos buscar os três pontos contra o Inter, depois mais três pontos e por ai vai. Se conseguirmos conquistar a maioria dos pontos que temos a disputar vamos conquistar nosso objetivo final. Não precisamos gastar energia tentando explicar pontuação, ou ponto de corte ou somas. Temos que nos apegar muito mais a questão técnica do que a matemática.

Qual o peso desse seu jogo de estreia diante do Internacional? E a importância de um triunfo nessa partida?

Vai ser um desafio grande. Teremos quatro sessões de treinamentos. Não vou inventar a roda. Mas quero trazer algo que mude, algo que traga algum tipo de mudança ainda mais por conta da somatória de momentos que estamos vivendo agora. Passado esse jogo teremos 10 dias de intervalo até o próximo (contra o Grêmio, dia 6 de janeiro). Então esse resultado traz para gente ainda mais uma condição de responsabilidade porque colocará para nós 10 dias de trabalho mais tranquilos ou mais pressionados.

O Bahia tem a pior defesa da Série A (46 gols sofridos). Esse é de fato o primeiro ponto que você vai trabalhar para corrigir? E o ponto mais falho do seu time?

É inegável. São números absolutos, não tem como se desvencilhar dessa marca hoje. Mas eu não posso apenas quantificar esses dados. Como treinador tenho a obrigação de qualificar isso. E nesses dias eu estudei todos os gols que o Bahia tomou. E posso afirmar que existem componentes que envolvem algumas variáveis que não necessariamente sejam apenas problemas do sistema defensivo. Por isso falo que muitas vezes os erros são sistémicos. A gente pensa na quantidade, mas muitos desses gols foram tomados porque não tivemos uma qualidade maior na marcação. O Bahia também é uma das equipes que menos comete falta no campeonato (média de 14,5 por jogo, a frente apenas do Grêmio, que comete 13,4). E não estou dizendo que tem que cometer mais faltas, esse não é o objetivo. Mas o recado está muito claro. Entendo que existe uma necessidade de correção mais sistêmica do que a condição dos zagueiros e goleiro. E buscar estratégias para a gente neutralizar os porquês e não o quanto. A gente vai continuar tomando gol, isso é inerente ao jogo. Mas que esses gols sejam feitos pela qualidade do nosso adversário e não aqueles que a gente poderia ter neutralizado.

No elenco você tem três jogadores que foram contratados fruto de um investimento muito alto feito pelo clube, que são Rodriguinho, Clayson e Elias, mas que não vêm rendendo o esperado e passaram a ser alvos de críticas da torcida. Como você pretende trabalhar com cada um?

É caso a caso. O Rodriguinho quando chegou ao Bahia, as primeiras sessões de treino dele foram comigo no time de transição. Ele fez quatro a cinco sessões de treinamento técnico conosco e por isso já tive contato. O Clayson eu já conheço um pouco mais na minha volta para cá. Ele jogou com o Pedro Gama, que é meu auxiliar técnico, na Ponte Preta. Tenho conexões com esses atletas e o meu intuito é buscar satisfações e dar a eles a condição de recuperá-los. Eu respeito muito a carreira do Elias, um cara extremamente conquistador e que foi muito protagonista em todos os clubes que passou. Tem uma história linda e uma história pessoal também muito bacana, muito bonita. Mas para o contexto de hoje eu não conto com ele. Já passei para a diretoria e ele vai entrar em contato com o jogador para saber o que pode ser feito. Mas a realidade é que tenho o maior respeito pelo Elias, vou tratá-lo a melhor forma possível, mas não vou colocar ele para jogar

Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

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