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‘Somos agredidos covardemente’: executivo, elenco e técnico criticam condições do Santa

Santa Cruz, PE, Série D, Últimas

Por Klisman Gama

Por Klisman Gama

Postado dia 8 de maio de 2022

Após a vitória em cima do Atlético-BA, atletas, comissão técnica e executivo do Santa Cruz convocaram a imprensa para divulgar um manifesto em conjunto. Nele, o tom subiu. Cobranças mais duras foram feitas, não só sobre salários, mas principalmente sobre condições de trabalho.

O técnico Leston Júnior, conhecido pelo seu tom comedido e apaziguador em coletivas, não poupou palavras. Além dele, falaram também o volante Gilberto, capitão do Santa Cruz, e o executivo Marcelo Segurado.

Entre as cobranças, foi citado o atraso de salário dentro do clube. Atletas estão com dois meses em atraso. Comissão técnica três meses. Mas funcionários, que em sua grande maioria possuem vencimentos menores, os atrasos chegam a seis meses. Situação crítica, que chegou ao ponto de, em conjunto, se unirem para exporem essas mazelas do Tricolor.


Outra parte da pauta deste comunicado se referiu também à ameaça sofrida por eles, na invasão de membros de uma uniformizada ao Centro de Treinamento Ninho das Cobras, e também no estádio do Arruda, na última sexta-feira (6).

Técnico diz que estrutura do Santa Cruz não condiz com cobrança

Leston Júnior subiu o tom. De acordo com ele, a cobrança dentro do Tricolor não condiz com o que é oferecido para que o trabalho possa ser desenvolvido. Ainda de acordo com ele, a estrutura do Santa Cruz é pior do que pelo menos a de 30 times que disputam a Série D.

Além disso, o comandante ressaltou também as condições ruins do CT Ninho das Cobras, com o campo de treino apresentando uma qualidade inadequada para o trabalho. Além disso, questões como alimentação para os atletas também vem apresentando déficit.

Leia, abaixo, a fala de Leston Júnior

O Santa Cruz é um grande clube do futebol brasileiro, gigante do Nordeste. Isso só é algo relacionado à história do clube. O momento do clube não condiz com as expectativas que as pessoas têm do que ele representa.

Eu começo por uma palavra: Respeito. Esses caras todos que estão aqui, jogadores, comissão técnica, funcionários, têm muito mais respeito ao Santa Cruz do que muita gente que vive por aí dizendo que ama esse clube.

Porque aqui não está um desabafo de reivindicar apenas salário de funcionários, de mais de quatro meses atrasados, comissão técnica três meses, e atletas dois meses. Não estou falando isso aqui em função de salário só, mas também.

Porque quando se fala que o Santa Cruz é a maior camisa da Série D, que é obrigação subir, uma baboseira danada que a gente é obrigado a ouvir de quem fala sem saber o que é a realidade desse clube no dia a dia, demonstra um desrespeito à instituição.

Ela que hoje vive, talvez, o seu pior momento da sua história. Basta ver as condições de trabalho que a gente tem. Basta fazer uma visita ao CT e  ver o campo onde a gente está treinando. Basta vir ver as coisas básicas que faltam aqui no dia a dia.

E cadê os apaixonados que falaram, na época da eleição, que iam juntos com o clube? Muitos aí tem amor às pessoas, não ao clube. Esse clube só vai ressurgir se houver união, se as pessoas que dizem amar o clube se unirem e darem dignidade a esses profissionais que aqui estão, para desenvolverem seu trabalho no dia a dia. Senão, será mais do mesmo.

Que fique claro que o que estão ouvindo aqui não é desabafo. Todo mundo aqui é pai de família, precisa chegar em casa e pagar suas contas. São todos seres humanos, que têm problemas, família, como todo mundo tem. Jogam por sobrevivência, para sobreviver, pois vivemos num mundo capitalista.

O que nos motivou a isso aqui, além de todos esses problemas. E não estou aqui dizendo que é responsabilidade de quem está na presidência, é porque o clube está largado mesmo. O Antônio (Luiz Neto) está aí, e mesmo assim o clube está largado aí no dia a dia. Não vou ser injusto.

Eu disse na coletiva (após a derrota para a Juazeirense) que vivo num ambiente covarde que é o futebol. Nós profissionais vivemos com nossa honra e dignidade covardemente atacadas todo dia, em função de um resultado de jogo (aqui no Santa Cruz). Mas não preciso ser covarde como o futebol é, e não vamos colocar todo mundo nesse balaio. 

Estamos falando das condições que temos de trabalho e o que nos é oferecido, e da exigência que é tida, como se estivéssemos naquele Santa Cruz lá de trás, naquele gigante que media forças (com todo mundo). A Série D tem 64 clubes e não temos condições superiores nem a 30 clubes desses 64.

E não estou falando desses que invadiram o CT e nos ameaçaram. Isso aí é caso de polícia e é obrigação do clube nos fornecer segurança. Não estamos generalizando para 15. Mas estamos falando que o clube só atingirá o acesso com união, com condições de trabalho e dignidade mínima.

Não tem ninguém pedindo luxo. Estamos pedindo dignidade, um campo em condição para treinar, alimentação correta para o atleta se alimentar de forma devida. É isso que estamos dizendo e, obviamente, salário. Se o segurança não recebe, se o médico não recebe… esses funcionários, são tão importantes ou até mais que esses caras aqui. Porque são essas pessoas que dão condições para esses caras. O manifesto é nesse sentido.

Não vamos esmorecer. Aqui tem profissional que se respeita. Respeita a si próprio, a sua família, ao seu trabalho e a instituição. Vários disseram não a esse clube, em função do que ele se tornou. Todo mundo aqui topou o desafio, mas é preciso dar uma condição digna para esse grupo conduzir o clube para onde todo mundo quer.

Isso aqui é onde colocaram o clube, e para tirar é preciso melhorar muito enquanto clube e precisa da união de todo mundo. E não ficar na rede social, ameaçando, tentando promover uma situação que não existe, falando que o Santa Cruz é a maior camisa da Série D. E daí? Isso representa o que, se não tem campo para treinar direito e alimentação? Eu vim treinar com a bola do jogo na semana do jogo só com seis bolas.

Isso só é possível se as pessoas se unirem, se as pessoas tiverem o mesmo respeito que nós aqui estamos demonstrando ter pelo clube. Aí as coisas podem caminhar com menos dificuldade para que o clube possa caminhar com menos dificuldade.

Executivo também sobe o tom e fala sobre ameaças de morte

O executivo de futebol do Santa Cruz, Marcelo Segurado, também se pronunciou. Ele relatou que o caos político que vive o Mais Querido, com divisões internas entre os poderes e também externamente, tem afetado dentro de campo. Ele pediu união em prol da briga pelo acesso, dando condições de trabalho aos atletas, comissão e funcionários para fazerem seu trabalho.

Além disso, Segurado também reiterou o quão grave foi a invasão da uniformizada ao CT do Santa Cruz. Ele cobrou por melhor estrutura e o “mínimo possível” para que o Tricolor possa funcionar corretamente.

Leia o que falou o executivo do Santa Cruz

Isso fica o recado para toda a nação e a parte política do clube. Se unam. Senão quem fica para trás e está se acabando é o Santa Cruz. Temos que entender que existe um projeto, e que esse projeto precisa ir para frente. Isso que estamos demonstrando é união, que sempre teve. Em momento algum esse grupo esmoreceu.

Passamos por dificuldades, estamos dentro do contexto reivindicando, e estamos expondo para vocês nossas dificuldades. Todo mundo é pai de família e fomos ameaçados de morte. Isso não é futebol, não é amor. A gente vem chamando a torcida para estar junto, ela vem, mas não é só isso. Precisamos ter estrutura e o mínimo possível.

Não estamos aqui agora, inclusive falo, porque o presidente está aqui, está trabalhando. E cadê as pessoas que viriam aqui com ele ajudá-lo? Então peço para vocês essa união. Não quero entrar em questão política. E isso lá não pode atrapalhar aqui.

Vamos estar juntos dentro de tudo isso que estamos propondo. Aqui tem homem, e não podem vir algumas de fora para botar dedo na cara da gente.

Capitão do Santa Cruz também relata dificuldades e mudança de atitude

O volante Gilberto, capitão do Santa Cruz e um dos líderes do elenco, também falou. Além de ressaltar as dificuldades vividas no Tricolor, ele subiu o tom em nome dos funcionários do clube. Partiu dele a informação de que há funcionários que estão há seis meses sem receber salários.

O cabeça de área também disse que a atitude do grupo mudou. A briga dentro de campo para buscar as vitórias e a classificação será ainda maior. Mas que também haverá cobrança para que as coisas sejam feitas corretamente dentro do clube.

Leia o que falou Gilberto, volante do Santa Cruz

Nosso grupo mudou de atitude, e isso foi mostrado a partir de hoje. Eu sabia que íamos vencer. Os funcionários precisam de dinheiro, os funcionários também. E chega de se acovardar. Esse grupo aqui é homem. Esse grupo é de caráter e daqui para frente vocês vão ver isso.

Todos aqui temos personalidade e vivemos o futebol. Só que, a partir de agora, vamos cobrar o que é nosso, o que é dos funcionários. Tem funcionário sem receber há cinco, seis meses. Não existe. Não interessa se é médico. Não existe isso. Vamos cobrar e dar resultado lá dentro.

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