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Jonilson Veloso, técnico do Jacuipense, fala sobre representatividade negra na final do Baiano: “A gente ainda vive esse racismo estrutural”

Baiano, BA, Bahia, Estaduais, Série D, Últimas

Por Daniel Leal

Por Daniel Leal

Postado dia 31 de março de 2023

Finalista do Campeonato Baiano, Jonilson Veloso não acredita que eventual título será determinante para fim do racismo no futebol

Dados de 2016 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 54% da população brasileira é negra. Uma maioria absoluta que, historicamente, sempre esteve alheia aos cargos de poder. No futebol, é igual. Apesar de uma maioria de jogadores negros, poucos são os treinadores que têm a oportunidade de comandar equipes.

No domingo, quando Bahia x Jacuipense entrarem em campo para o último jogo do Campeonato Baiano, o técnico do Leão do Sisal, Jonilson Veloso, carregará consigo também um simbolismo. Será um técnico negro, vindo do interior do estado à frente do time num jogo decisivo em plena Arena Fonte Nova, em Salvador, com a possibilidade de levantar o título de um dos estaduais mais tradicionais do país.

Na quinta temporada com o Jacuipense – voltou neste ano após uma breve saída em 2022 -, o treinador soteropolitano de 47 anos terá a oportunidade de levar a Riachão do Jacuípe, município a 186 quilômetros da capital, o primeiro título do Baianão da sua história. Apesar da possibilidade real de levantar a taça – que bateu na trave no ano passado, quando o Leão do Sisal foi vice-campeão -, Jonilson Veloso não acredita que será isso que mudará o racismo imerso no futebol brasileiro.


“Eu acredito que não vai mudar. Na maioria dos clubes tem muitos negros e a gente ainda vive esse racismo estrutural. Se você tem os atletas que entram em campo e são os personagens principais e sofrem com isso, imagine um treinador, por ser campeão baiano. Não é um título que vai fazer com que isso venha a mudar”, afirmou o técnico de 47 anos, em declaração ao NE45.

“Eu acredito que isso está mudando, mas a passos de tartaruga. E vai demorar um pouco. Agora é bom porque mostramos a nossa competência, um treinador baiano aqui da terra, negro, mostrando a nossa competência para estar no mercado de futebol tranquilamente”, acrescentou Jonilson Veloso.

Bahia, um reduto de técnicos negros campeões

Historicamente, poucos foram os treinadores nacionais negros que tiveram sucesso no futebol. Casos como o dos ex-técnicos de Seleção Gentil Cardoso (Brasil, 1959) e Didi (Peru, 1970) são historicamente raros. No ano passado, numa determinada altura, apenas três treinadores negros comandavam equipes nas 40 equipes das Séries A e B – Jair Ventura (Goiás), no Brasileirão, e Hélio dos Anjos (Ponte Preta) e Roger Machado (Grêmio), na Segundona.

A Bahia possui a capital brasileira mais negra do país – segundo a PNAD Contínua, do IBGE, os negros (pretos e pardos) eram, em 2018, 2,425 milhões, ou 82,1% das 2,954 milhões de pessoas que viviam na cidade de Salvador naquele ano. Justamente neste estado pode-se notar um oásis quando o cenário diz respeito a treinadores campeões nos últimos anos. 

Num levantamento recente, nos últimos cinco anos de Baianão, dois treinadores negros levantaram três taças: Roger Machado, pelo Bahia, em 2019 e 2020, além de Agnaldo Liz, com o Atlético de Alagoinhas, no ano passado. Em 2023, a bola está com Jonilson Veloso.

Jonilson Veloso respondeu às perguntas enviadas pelo NE45

As chances de Jonilson Veloso e do Jacuipense na decisão

O Jacuipense se classificou na primeira fase com a segunda melhor campanha, com 17 pontos – atrás apenas do Bahia (21). Na semifinal, passou como um trator pelo Juazeirense, com duas vitórias nas semifinais. No primeiro jogo da final, com o Tricolor de Aço, saiu à frente do marcador, mas sofreu o empate em casa: 1 a 1.

Jonilson Veloso promete manter a mesma postura agressiva da equipe na competição, mesmo jogando diante do Bahia na Arena Fonte Nova.

“A postura será a mesma. Quem vem acompanhando identifica um padrão na equipe do Jacuipense. É um time que no decorrer da competição vem crescendo, ele chegou na fase final muito forte. Fizemos um grande jogo com o Bahia e agora só depende de nós. Serão 90 minutos em que a postura será a mesma: sem a bola, se defender bem; e, com a bola, explorar os nossos atacantes de velocidade para que a gente seja feliz diante na Arena Fonte Nova”, disse.

Explorar os atacantes, de fato, é uma boa alternativa para o Leão do Sisal. Welder e Jeam são os dois vice-artilheiros do Estadual, ambos com cinco gols marcados – o primeiro, inclusive, marcou no primeiro jogo da decisão. Os dois podem igualar/ultrapassar o artilheiro da competição, que é Cesinha, do já eliminado Itabuna, com seis gols. O treinador do Jacuipense confia nos gols e mais: no título.

“Acredito que a expectativa, tanto do torcedor, como do clube, é positiva. É hora de desfrutar uma segunda final consecutiva e é um momento de bastante alegria para todos nós. O Jacuipense chega na segunda final e trabalhamos muito para isso. A torcida está muito esperançosa para que esse primeiro título venha e a gente feche com chave de ouro esse Campeonato Baiano”, pontuou.

Jonilson Veloso, técnico do Jacuipense
Jonilson Veloso, técnico do Jacuipense. Foto: Jacuipense/Divulgação

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