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Final da Sul-Americana - Fortaleza x LDU - Gol da LDU Final da Sul-Americana - Fortaleza x LDU - Gol da LDU

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O instante agora distante: Fortaleza perde pênalti decisivo e sonho da Sul-americana termina sem título

Foto: Divulgação/Sul-Americana

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Fortaleza teve a chance de ganhar nos pênaltis, mas Pedro Augusto perdeu e os equatorianos venceram nas alternadas

MALDONADO (URU) – Há uma grande história a ser contada. E ela começa em um ponto de partida comum a todos que têm a missão de contar essa história como ela deve e precisa ser contada. Dimensionada. Eternizada. Por mais repetitivo que seja. Por mais que todos já tenham contado. Uma, duas ou dez vezes. Dez mil vezes se preciso for.

O “Era uma vez” dessa grande história começa no final de 2009, quando o Fortaleza foi rebaixado para a Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro. Por mais dura que fosse aquela queda, ninguém imaginaria o que estava por vir. Sete longos sombrios e dilacerantes anos, intercalando vexames, colapso e dramas inacreditáveis.

O dia 9 de outubro de 2016 marcou a última grande frustração. Quase 64 mil torcedores no Castelão silenciaram, choraram ou se revoltaram com o empate em 1×1 diante do Juventude – que condenava o Tricolor a mais um dos piores anos da sua existência. Ali, naquela noite, naquele cenário desolador, ninguém poderia imaginar o que o destino reservaria. O que aquele clube desacreditado, abalado, de futuro cada vez mais incerto construiria. O Fortaleza “do futuro” seria o das lágrimas de felicidade.

E este é o futuro. O presente (im)perfeito. Cada vitória, cada evolução estrutural, cada barreira rompida, cada “impossível” transformado em realidade nos últimos 14 anos trouxeram o Fortaleza até o maior dia da sua história. Títulos estaduais; conquista de Série B; duas Copas do Nordeste; grandes campanhas na Série A; duas edições de Libertadores…Tudo deve ser lembrado e valorizado nesta cruzada que transformou o clube em referência dentro do Nordeste. Primeiro clube da região a disputar a final da Sul-americana. O título histórico ficou por 11 metros. Por uma cobrança de pênalti que transformaria em glória o que agora fica para a eternidade como orgulho.

Não tenham dúvida que este é o sentimento mais forte em cada torcedor do Fortaleza, esteja onde estiver neste instante. A tristeza tem seu lugar. A frustração também. Mas o orgulho é maior. Sem demagogia e sem tentar forjar um consolo para o que é inconsolável. O futebol não é feito de vitórias. Nem as grandes histórias. Nem a própria história do clube. E quem é Fortaleza sabe disso melhor que ninguém.

Milhares de histórias dentro da grande história

Poucas horas da final, o céu azul desapareceu da paisagem de Punta Del Leste, tomado por uma forte neblina que encobria o horizonte mais próximo. Mas o que parecia uma reviravolta nas condições de jogo acabou se dissipando e dando lugar a um sol digno do verão do Nordeste.

O pequeno estádio Domingo Burgueño ganhou cores de uma grande decisão. Já era esperada uma gigantesca invasão dos torcedores do Fortaleza. E ela aconteceu, lotando ou superlotando todo o espaço reservado. Uma imagem que lembrava os grandes jogos no Presidente Vargas. Mas, de forma até surpreendente considerando a movimentação dos dias que antecederam a decisão em Punta Del Leste, a presença da torcida da Liga de Quito foi igualmente impressionante.

Foram cerca de 15 mil pessoas cruzando mais de quatro mil quilômetros para chegar até ali. Partindo de Quito ou Fortaleza e atravessando o continente em longos voos ou verdadeiras cruzadas por terra. Dias e noites sem fim. Que vão durar pra sempre na memória. Um solitário tricolor fez o caminho de moto. Uma jornada pessoal inacreditável.

São incontáveis histórias dentro da grande história do Fortaleza.

Torcida do Fortaleza na final da Sul-Americana
Foto: Matheus Amorim/FEC

O que aconteceu em 90 minutos

Agora é preciso contar a história do jogo. Às vezes ele parece até menor diante de tudo que o cerca. São 90 minutos no meio de uma eternidade. Noventa minutos que viraram 120 e que devem ser contados em partes. Os primeiros 15 minutos foram de absoluto domínio do Fortaleza. Impositivo. Com e sem a bola. Chegava fácil. Marcava forte.

A introdução da grande final apontava a diferença de poder técnico e de capacidade de envolvimento das duas equipes. O melhor momento resultou em uma grande chance. Marinho entrou livre pela direita. Tentou o primeiro corte para a perna esquerda, depois o segundo…e o espaço que havia sumiu. A bola resvalada sobrou para Guilherme. Livre, de frente para o goleiro… até que um carrinho preciso criou um muro entre o chute e o gol.

No segundo recorte da partida, a LDU conseguiu enfim respirar. E, gradativamente, até se aproximar da área adversária. Sem a mesma contundência do Fortaleza, mas o suficiente para ao menos se reposicionar no jogo. Um chute fraco e rasteiro pra fora e uma cabeçada por cima resumiram o que podemos chamar de resposta equatoriana. E assim o 1º tempo se foi. Discreto. Controlado. Mais equilibrado do que os primeiros 15 minutos sugeriram.

Esta é uma história que começa a ser contada em 2009. Que passa por 14 anos. Por 90 minutos. Mas que também pode ser contada em dois minutos. Ou nem isso. O tempo exato em que o atacante equatoriano Jhojan Julio entra na área e, cara a cara com João Ricardo, bate em cima do goleiro. Como em um piscar de olhos, a bola estava dentro do gol de Alexander Dominguez. Um contra-ataque que termina em uma finalização precisa de Lucero, dentro da pequena área. Implacável. 1 x 0. Tudo isso antes dos três minutos do 2º tempo. Não poderia haver recomeço melhor para o Fortaleza.

Final da Sul-Americana - Fortaleza x LDU - Lucero
Foto: Mateus Lotif/FEC

Porém, no futebol, uma grande jogada tem poder de mudar cenários. E assim Alzugaray construiu o empate equatoriano. Bela descida pela direita. Corte pra dentro. Batida de esquerda tirando do goleiro. 1 x 1. Dez minutos apenas. Tinha muito jogo pela frente. Como esperado, Vojvoda lançou seu arsenal de substituições. Um diferencial do Fortaleza. Vieram Machuca, Picachu, Galhardo e Pedro Augusto. Mas o jogo era outro.

Noite, neblina e vento frio

O clima mudou completamente. A neblina baixou e a noite caiu com um vento gelado. A temperatura caiu sete graus. A prorrogação seria disputada neste cenário.

E, neste momento de uma final, as diferenças já não fazem tanta diferença. Fortaleza e LDU estavam absolutamente nivelados. No 1º tempo, ainda que o time brasileiro demonstrasse sempre mais coordenação em suas jogadas ofensivas, o adversário igualava no volume, prevalecendo inclusive nas disputas do meio de campo.

O segundo tempo veio com o Tricolor mais contundente nos primeiros minutos. Trabalhava a bola e agredia a Liga, que parecia apenas tentar minimizar os riscos. Até que, aos 7 minutos, o zagueiro Tite sentiu uma contratura muscular e – como Vojvoda já havia feito seis substituições – precisou seguir em campo no absoluto sacrifício, se arrastando no ataque. A contagem regressiva para os pênaltis começou ali.

O instante agora distante

São tantas curvas e reviravoltas do destino que ainda faltava mais uma. Cabia a João Ricardo o papel de herói. Goleiro do arquirrival Ceará na temporada passada, chegou ao Fortaleza este ano e ganhou a posição. Fez sua (p)arte.

Na primeira cobrança, defendeu a batida tímida de Paolo Guerrero. Explosão na arquibancada atrás da barra. Os tricolores estavam a poucos metros de onde tudo estava sendo decidido. Galhardo e Pikachu mantiveram o Fortaleza na frente até o erro de Romero. Cobrança telegrafada. A meia altura. Tudo igual.

Julio para a LDU e Tinga mantiveram a igualdade e deixaram a decisão para a 5ª cobrança. E, de novo, João Ricardo prevaleceu. O título estava nos pés de Pedro Augusto.

Onze metros. 14 anos. Uma eternidade. Ficará na memória a cobrança no canto esquerdo de Dominguez. E a grande defesa do goleiro equatoriano. Foi o instante em que o título da Sul-americana esteve mais perto do Fortaleza. O instante agora distante. Brítez ainda perdeu a última cobrança. Colocando um ponto final na história da decisão. Na história desta campanha inesquecível do Fortaleza. Mas não daquela história iniciada com o acesso para a Série B em 2017. Em todo este tempo aprendemos que o Fortaleza é capaz de reescrever seu destino.

E o destino nunca será feito apenas de vitórias.

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