O Conselho Deliberativo do Náutico, em reunião presencial na última segunda-feira (03), suspendeu o processo de exclusão do quadro de sócios contra Errison Melo. A informação foi divulgada inicialmente pelo jornalista Renato Barros e confirmada pela reportagem do NE45.
A ação, movida por Camilo Roma de Brito, está parada até que a denúncia de importunação sexual e crimes contra a honra feita por Tatiana Roma contra Errison seja definida na Justiça. Os dois casos, porém, não possuem qualquer semelhança – nem de autoria e muito menos de causa.
Procurado pela reportagem do NE45, o presidente do Conselho Deliberativo do Náutico, Alexandre Carneiro, evitou dar detalhes sobre o caso. “Até mais tarde o Conselho deverá soltar algum pronunciamento”, disse rapidamente.
Camilo Roma de Brito pede que Errison Melo seja excluído do quadro de sócios por “atitudes graves” e que “mancharam o nome do Náutico”. A alegação feita pelo conselheiro é baseada no artigo 10 do estatuto do clube, que diz o seguinte no inciso IV:
“Exclusão aos que, descumprindo os deveres estatutários, prejudicarem o Clube em seu crédito ou interesse, por atitudes imorais ou incompatíveis com a ética, ou que venham a ser consideradas de natureza grave”, diz trecho do estatuto.
Por outro lado, Tatiana Roma, ex-diretora da Mulher e de Operações do Clube, prestou queixa na Delegacia da Mulher e acusou Errison de importunação sexual e crimes contra a honra, como injúria, calúnia e difamação.
Apesar das denúncias serem completamente distintas, o Conselho Deliberativo optou por vincular o processo de Camilo com o de Tatiana, que corre na esfera judicial. O estatuto do clube, porém, é muito explícito e diz que cabe ao órgão decidir ou não pela expulsão de alguém do quadro de sócios.
Vale lembrar que, no fim de abril deste ano, Errison Melo foi indiciado pela Polícia Civil por importunação sexual e crimes contra a honra. Isso aconteceu após a denúncia de Tatiana, já citada acima, e também de uma adolescente de 15 anos, que relatou uma queixa de importunação sexual contra o ex-superintendente financeiro. Os inquéritos, inclusive, foram remetidos ao Ministério Público.
Entenda o caso das denúncias contra o ex-superintendente do Náutico
Em novembro do ano passado, os bastidores do Náutico ficaram bastante movimentados após a denúncia de importunação sexual feita pela ex-diretora Tatiana Roma, pedindo o afastamento do acusado, o então superintendente financeiro do clube, Errisson Rosendo de Melo, irmão do presidente Edno Melo.
Na época, o clube admitiu ter tido conhecimento da denúncia de Tatiana, e o acusado pediu afastamento do clube, sendo oficialmente demitido na sequência. Ele, porém, não era funcionário, atuava como um prestador de serviço.
Na época, Tatiana também divulgou trechos de uma conversa com o presidente do Conselho Deliberativo, Alexandre Carneiro, solicitando o afastamento do superintendente, algo que foi rebatido por Alexandre, que garantiu ter explicado o rito jurídico para ela.
O assunto gerou grande pressão por parte de patrocinadores do clube, e também já levou o Náutico a acertar parceria com uma consultoria especializada no combate ao abuso às mulheres, criando uma comissão feminina. O Conselho Deliberativo também abriu debate para montar protocolos para a condução de casos de assédio dentro do clube.
Dias depois da queixa de Tatiana, houve uma denúncia feita pela mãe de uma adolescente de 15 anos. A denunciante é afilhada da sogra de Errisson.
A denúncia foi relatada em um Boletim de Ocorrência disponibilizado, com a adolescente, que hoje tem 15 anos, relatando que Errisson teria tentado, em diferentes oportunidades, tocar em suas pernas e seios. O B.O. foi registado na Delegacia de Polícia de Crimes contra Crianças e Adolescentes (DPCA), no Recife.
Segundo o relato do B.O., reuniões familiares teriam sido o palco de dois casos de assédio em novembro e dezembro de 2020, quando, respectivamente, ele teria alisado as pernas dela e a chamado de “gostosa”.
À época, em entrevista para a Rede Globo, a adolescente explicou como isso aconteceu. “E toda vez que ele falava alguma coisa, ele tocava a minha perna, e, nisso ele levantava a mão de novo, mexia a mão e subia mais uma vez. E eu olhando. Me senti desconfortável, mas, querendo ou não, a gente nunca pensa no pior. ‘Deve ser coisa da minha cabeça’, mas infelizmente não foi”. “Ele foi me dar um abraço para se despedir e, nesse abraço, ele sussurrou no meu ouvido que eu era uma gostosa”.
O caso mais grave, porém, teria acontecido no dia 24 de janeiro deste ano, na casa de Errison. Na oportunidade, ele teria alisado “os peitos da adolescente por dentro da blusa”, tendo afirmado que havia feito isso porque “ela vai fazer 15 anos e vai deixar de ser uma adolescente para ser uma mulher e que quando os meninos forem fazer isso, ela saber como é”.
Desta vez, porém, motivada pelas vezes anteriores, a ação foi filmada pela adolescente, com áudio divulgado pela Rede Globo.
– Você está entrando em uma fase de idade, vai muito cabra safado chegar perto.
– Entendi.
– Desse jeitinho que eu fiz, os caras fazem.
– É, desse mesmo jeitinho, fazem assim.
– Eu não estou fazendo por maldade, fiz para você entender.
– Eu entendi.
Depois da denúncia de Tatiana Roma, também contra Errison, e de outras mulheres relatando importunação sexual por parte do ex-superintendente do clube, a adolescente relatou o caso à mãe, que, por sua vez, procurou a polícia.







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