Atual presidente não será candidato à reeleição
Diógenes Braga não vai participar do próximo pleito do Náutico, conforme o próprio disse em entrevista à Rádio Jornal. Fora de qualquer cargo após o seu mandato, contudo, o dirigente sinalizou apoio para uma eventual candidatura de um velho conhecido: Edno Melo, que presidiu o Timbu da metade de 2017 até o fim de 2021.
Diógenes revelou que mantém contato frequente com Edno e que estaria com o ex-presidente para o que ele precisasse em uma eventual candidatura. No entanto, revelou que acha difícil o retorno do dirigente à presidência, pois, na visão do atual mandatário, é algo que envolve muito esforço pessoal.
“Falo com Edno diariamente. Se Edno voltasse eu estaria com ele para o que ele precisasse. Gostaria muito, mas acho muito difícil que ele se coloque por tudo que aconteceu. Quando a gente vem para um cargo de presidência é uma doação pessoal muito grande. A gente se doa muito. É algo que a gente tenta se blindar, blindar a família e a saúde, mas não consegue. E acaba que fica todo mundo sofrendo com você. Isso maltrata e desencoraja as pessoas a voltar. Mas Edno é um irmão”, disse o presidente.
“Sei que andou se colocando algumas coisas de que ele poderia ser oposição minha. E aí lembro que liguei para ele e disse: ‘Estou torcendo para ser verdade. Vou para o sinal de trânsito fazer panfletagem’. Edno esteve na minha casa ontem à noite, já falei com ele várias vezes. É uma pessoa que tenho um apreço muito grande, do meu convívio pessoal”, completou.
Ainda sobre o pleito, Diógenes falou que teme que o Náutico entre numa aventura – sem citar o nome de qualquer possível candidato. Ele também revelou que o clube tem avançado em algumas áreas administrativas, vide a Recuperação Judicial, o processo para aderir ao modelo de uma eventual SAF, e que isso não pode se perder.
“Tenho muito medo que o clube entre numa aventura. É um momento de muita responsabilidade. Apesar do insucesso do futebol, que maltrata muito e é um grande insucesso e não podemos contemporizar, mas o clube tem muitas coisas andando que não podem ser perdidas. E são avanços que transcendem gestão”, disse.
Edno Melo no Náutico
Edno Melo comandou o Náutico da metade de 2017 até 2021, sendo aclamado em duas eleições que disputou. Durante toda a sua gestão, teve como braço direito o atual presidente do Náutico, Diógenes Braga, que à época atuou como vice-presidente executivo e de futebol do clube alvirrubro durante os quatro anos.
Em junho deste ano, ao ser questionado pela reportagem do NE45 sobre uma possível candidatura para o biênio 2024-2025, o ex-presidente não descartou.
Como presidente do Náutico, Edno Melo conquistou o Campeonato Pernambucano de 2021 e a Série C de 2019 – e consequentemente o acesso à Série B, claro. Em seu último ano à frente do Alvirrubro, o clube chegou a liderar a Segundona por quase um turno, porém não conseguiu subir para a elite do futebol brasileiro.
Fora de campo, contudo, a gestão também ficou marcada por denúncias de importunação sexual contra Errisson Rosendo de Melo, irmão de Edno Melo.
Entenda o caso das denúncias contra o ex-superintendente do Náutico
Em novembro de 2021, os bastidores do Náutico ficaram bastante movimentados após a denúncia de importunação sexual feita pela ex-diretora Tatiana Roma, pedindo o afastamento do acusado, o então superintendente financeiro do clube, Errisson Rosendo de Melo, irmão do presidente Edno Melo.
Na época, o Náutico admitiu ter tido conhecimento da denúncia de Tatiana, e o acusado pediu afastamento do clube, sendo oficialmente demitido na sequência. Ele, porém, não era funcionário, atuava como um prestador de serviço.
Na época, Tatiana também divulgou trechos de uma conversa com o presidente do Conselho Deliberativo, Alexandre Carneiro, solicitando o afastamento do superintendente, algo que foi rebatido pelo dirigente, que garantiu ter explicado o rito jurídico para ela.
O assunto gerou grande pressão por parte de patrocinadores do clube, e também já levou o Náutico a acertar parceria com uma consultoria especializada no combate ao abuso às mulheres, criando uma comissão feminina. O Conselho Deliberativo também abriu debate para montar protocolos para a condução de casos de assédio dentro do clube.
Dias depois da queixa de Tatiana, houve uma denúncia feita pela mãe de uma adolescente de 15 anos. A denunciante é afilhada da sogra de Errisson.
A denúncia foi relatada em um Boletim de Ocorrência disponibilizado, com a adolescente, que hoje tem 15 anos, relatando que Errisson teria tentado, em diferentes oportunidades, tocar em suas pernas e seios. O B.O. foi registado na Delegacia de Polícia de Crimes contra Crianças e Adolescentes (DPCA), no Recife.
Segundo o relato do B.O, reuniões familiares teriam sido o palco de dois casos de assédio em novembro e dezembro de 2020, quando, respectivamente, ele teria alisado as pernas dela e a chamado de “gostosa”.
À época, em entrevista para a Rede Globo, a adolescente explicou como isso aconteceu. “E toda vez que ele falava alguma coisa, ele tocava a minha perna, e, nisso ele levantava a mão de novo, mexia a mão e subia mais uma vez. E eu olhando. Me senti desconfortável, mas, querendo ou não, a gente nunca pensa no pior. ‘Deve ser coisa da minha cabeça’, mas infelizmente não foi”. “Ele foi me dar um abraço para se despedir e, nesse abraço, ele sussurrou no meu ouvido que eu era uma gostosa”.
O caso mais grave, porém, teria acontecido no dia 24 de janeiro deste ano, na casa de Errison. Na oportunidade, ele teria alisado “os peitos da adolescente por dentro da blusa”, tendo afirmado que havia feito isso porque “ela vai fazer 15 anos e vai deixar de ser uma adolescente para ser uma mulher e que quando os meninos forem fazer isso, ela saber como é”.
Desta vez, porém, motivada pelas vezes anteriores, a ação foi filmada pela adolescente, com áudio divulgado pela Rede Globo.
– Você está entrando em uma fase de idade, vai muito cabra safado chegar perto.
– Entendi.
– Desse jeitinho que eu fiz, os caras fazem.
– É, desse mesmo jeitinho, fazem assim.
– Eu não estou fazendo por maldade, fiz para você entender.
– Eu entendi.
Depois da denúncia de Tatiana Roma, também contra Errison, e de outras mulheres relatando importunação sexual por parte do ex-superintendente do clube, a adolescente relatou o caso à mãe, que, por sua vez, procurou a polícia.
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